quarta-feira, 15 de agosto de 2018

MISÉRIA DE TODOS OS DIAS



Morador de Rua dormindo na Praça do The City Hall
Hoje deparei com uma cena deplorável logo ao sair de casa pela manhã. Um homem, típico africano, remexia uma das lixeiras postas na calçada, uma vez que é comum, no dia da coleta, deixar os grandes vasilhames do lado de fora. Dentro deles estão os sacos de lixo que os oradores antecipadamente depositaram na lixeira.

Pois bem, não me surpreendi com a presença do homem, mas com o que ele separava. Ao erguer os olhos para cumprimenta-lo observei que ele separava ossos de frango. Fiquei estarrecida com a imagem, mas pensei: talvez seja para os cãs. Mas de pronto lembrei que se meus cães não comem ossos de frango, porque os dele deveriam comer?
A caminho da escola pus-me a pensar naquela situação e me lembrei de outra cena deplorável que vi no Centro um dia desses, quando a turma fazia um tour cultural.   Ainda não eram 10 horas da manhã e na praça em frente ao The City Hall, uma belíssima construção datada da primeira década do  século XX, vi um homem curvando-se para beber da água parada em um dos cantos da praça. O local, que em outros tempos era um dos cartões postais de Cape Town, agora é habitação de homens e mulheres que não têm onde morar.

Vista geral da praça do The City Hall
Lembrei também de uma passagem bíblica registrada no livro de II Reis 6, quando Samaria cercada pelo exercito da Síria passava por uma grande fome. Relata-nos a Bíblia que como moeda de troca usava-se a cabeça de jumento e o esterco de pombas, e nem todas as pessoas tinham acesso a tais valores, que a nós parecem tão pequenos.  E diante de tanta carência, como saber se aquele homem de fato separava os ossos de frango para sua própria alimentação?
Ao mesmo tempo em que o mundo exibe tanta riqueza, penso que nunca se viu antes tanta miséria. Não há um dia sequer que não haja centenas de pessoas buscando um recurso para sobrevivência em uma lixeira. Enquanto separam latinhas e garrafas pet para reciclagem é uma coisa, nossa consciência até os chama de recicladores, dando a eles um ofício, mas quando partem para retirarem do lixo o alimento é de fato o fim.  

Arquitetura Edwardiana inaugurada em 1905 no centro de Cape Town - The City Hall

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