segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

INTERCÂMBIO CULTURAL TEM LIMITE DE IDADE?

 Ayub, do Iémen,  completou 18 anos longe de casa fazendo seu primeiro intercâmbio

Árabes, japoneses, iemenitas, brasileiros, angolanos e sul-africanos variedade de culturas. Ayub, o nono na foto, é nosso caçula. Com a pasta azul é  a teacher Portia Lesch. 
Até quando devemos estudar? Isso mesmo sentar-se em um banco escolar e aprender coisas novas. Fazer novos amigos. Será que tem uma idade limite para tal façanha?

Sempre tive vontade de aprender uma nova língua. Na juventude passei por cursos de inglês, mas nunca consegui avançar o suficiente. Há uns quatro anos voltei a carga com força, mas o resultado não foi o esperado. Este ano parti para um projeto mais agressivo e fui intercambiar. Escolhi a África do Sul porque já estivera lá e o custo benefício em muito me favoreceria. Agência contratada, escola escolhida e com todas as outras burocracias aprovadas parti.
Deixar casa, família e tudo mais para trás não é fácil, pelo menos não na primeira vez. A princípio até achava que as dificuldades seriam facilmente superadas, mas não foram. Aqui, na sala de aula falamos a mesma língua e fora, quando se está perdida em um mundo que põe você de ponta cabeça? Ai a saudade aperta, o coração grita, a tristeza avança e tudo vira um caos. Hoje somos favorecidos pela tecnologia que nos dá acesso a todo tipo de informação instantaneamente. Isso me faz pensar em como era para as pessoas em um passado não muito distante, quando a Internet e seus recursos não eram tão populares. Pois bem, o aprendizado não foi o esperado. Sofri com um bloqueio por cerca de 60 dias. Até que faltando um mês para voltar para casa a mente começou a funcionar. Ai, já era tarde e Inês, como diz o velho ditado, já estava morta, ou quase. Mas descobri que é possível, que sou capaz e vou continuar a tentar.
Aqui a turma de Reunion, um departamento francê localizado próximo de Madagascar, é a maioria, mas não pode faltar um brasileiro na classe, no caso, dois, nós estamos em todos os lugares.  Teacher Mayuri, a terceira sentada. 
Primeira turma com teacher Fatima

Uma aula no campo para descrever os monumetos de Cape Town com a teacher Hearther

Na primeira turma a gente quase sempre esquece o nome de alguém, ainda mais quando se estuda junto só uma semana

Na escola em que estudei conheci pessoas de vários países, o que foi encantador. Tinha também muitos brasileiros, aliás a África do Sul está atraindo nosso povo, não somente para estudar, mas para o turismo. Certo que a maioria dos estudantes são jovens. Moças e rapazes beneficiados pelos pais para um curso no exterior, um investimento totalmente louvável. Mas há também adultos. Homens e mulheres dispostos a um aperfeiçoamento para melhorar o desempenho profissional.
Para cada um um objetivo, um sonho e um ideal
Entre as dezenas de pessoas que conheci perguntei para algumas razões para estarem em outro país estudando, Ana Maria Rodrigues Mateus, é economista, tem 59 anos e trabalha no Ministério das Finanças em Angola. Por várias vezes visitou a África do Sul, mas somente agora resolveu fazer um curso de inglês. “Na verdade eu estou aqui fazendo um tratamento de saúde e  para melhorar meu contato com os médicos, aproveitei para estudar”, destacou a angolana, para quem “o saber não ocupa lugar”.

Ana Maria Rodrigues, economista de Angola
A brasileira Beatriz Silveira é uma bancária aposentada, tem 62 anos e há tempos investe no aprendizado do inglês. Seu objetivo é melhorar a fluência para ter mais tranquilidade nas viagens. Para Beatriz, a idade não é impedimento para o aprendizado de uma nova língua, mas ela salienta que quando se é mais jovem, a assimilação também é mais rápida. “Mas sempre é tempo de estudar e de   aprender”

Beatriz, brasileira e Cleoprata, angolana
Cleópatra dos Santos tem 38 anos, nasceu e vive em Angola, mas passou seis anos no Brasil, onde estudou Engenharia da Computação. Deixou Luanda para passar seis semanas na Cidade do Cabo. Em casa ficaram três meninos, um de nove ano,  outro de cinco e o caçula  de um aninho. Para ela foi complicado ter que deixar os filhos pequenos para passar mais de um mês fora de casa, mas admite que não poderia perder a chance, uma vez que a empresa de tecnologia na qual trabalha ofereceu a ela a oportunidade de melhor capacitação. “O aprendizado não tem idade é como no amor, o importante é ter força de vontade e superar os obstáculos”. Para Cleópatra a possibilidade de aprender uma língua estrangeira com nativos é algo que não se pode dispensar.  

Vilmar e Rafael Silva além do Intercâmbio foram conhecer o projeto Obs Pasta Kitchen, que atende moradores de rua em Cape Town
Vilmar e Rafael Silva. Pai e filho. Sucesso na Good Hope Studies nas quatro semanas que estiveram por lá. Não é muiro comum a presença de duas gerações simutanemamente na escola, mas acontece. O pai, executivo de uma empresa de agronegócio em Cuiabá e o filho, naturalmente universitário. O objetivo do primeiro: evoluir no trabalho e do segundo: se preparar para o mercado que cada dia exige mais qualificação. 


Mundo árabe na Good Hope Studies in Cape Town

Ziggi, minha homestay e a amiga Gill Smit

Momemnto histórico: primeira certificação internacional

Reta Final para conclusão do intercâmbio



quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

ROBERTO BREGA : UM ÍCONE DAS ILUSÕES



Esta é a principal foto do Facebook de Roberto Braga, parece que publicada em 2013

Esta semana li nas redes sociais  a notícia da morte de Roberto Brega, um sonhador.  Seu corpo foi encontrado em um quarto de hotel do Centro de Porto Velho e sua morte foi dada como natural. O maior desejo de Roberto Braga: gravar um CD. E o segundo maior, talvez fosse ser agraciado pelo programa do apresentador de TV Luciano Huck, no quadro Lata Velha, onde teria seu fusca azul restaurado. Possivelmente, pela primeira vez Roberto conseguiu ser notícia de verdade e atrair a atenção do público. Os posts sobre sua morte foram compartilhados por muita gente e os comentários foram centenas. Talvez nem soubesse, mas tinha um fã clube considerável.  
Um tempo atrás, acho que há quase três anos,  fiz uma entrevista com ele lá na avenida Amazonas, no Agenor de Carvalho, próximo ao local em que ele então morava. Por algumas vezes tentei produzir um texto, mas sempre esbarrava em algumas dificuldades, a primeira delas, foi que  realmente não consegui extrair dele clareza nas informações. Às vezes me parecia um homem enigmático, mas de outras  vezes, a impressão que eu tinha é que lhe faltava  lucidez para concluir frases e pensamentos. Mas agora, diante da notícia de sua morte, retomei às escassas anotações e tento extrair delas alguma coisa que faça sentido. Por algumas vezes, tentei retomar a entrevista, mas sempre que o via em algum cruzamento, ou estava apressada ou pensava que não era um bom momento.
Mas enfim, a vida passa para todos e passou para o Roberto Brega, que na verdade se chamava  José e ao ser questionado pelo sobrenome, ele alegou que todo mundo conhecia ele pelo nome artístico, e não havia necessidade de mais informações. Adotou o nome de Roberto, porque muitos fãs diziam que a sua voz era muito parecida com a do cantor popular Roberto Carlos e o brega, certamente era por causa da linha musical que adotara.  Ainda assim disse que tinha  filhos, cinco no total e sete netos e que conversava, por telefone,  com alguns deles de vez em quando.  Sem admitir a idade exata deixou que eu sugerisse uma, falei 60 anos e ele disse que era por ai.
Brega contou então que a partir de um momento de sua vida, não definido claramente, passou a perseguir o sonho de ser cantor. Lembrou que quando tinha uns 10 ou 11 anos aprendeu a tocar violão. Com essa ideia, há alguns anos, deixou o Recife excursionando até o Amazonas. Passou por cidades como Nova Olinda do Norte e Santo Antônio do Borba. Na bagagem tinha um único CD gravado, e por onde passava pleiteava algumas cópias para vender ao público. Contou que viajou de avião e de ônibus com ar condicionado e que fazia shows ao vivo, mas aos poucos foi perdendo o que ganhava e por fim ficou sem a caixa de som e o teclado. Foi quando ouviu falar que talvez tivesse sorte em Rondônia, aonde chegou com 20 reais no bolso.
Passou por Guajará Mirim, onde pensava comprar um novo teclado,  para depois se estabelecer em Porto Velho. Saudoso, lembrava-se de ter tocado em um bar na Avenida Sete de Setembro, e outro no bairro da Balsa. A música principal de seu repertório, segundo ele mesmo, era “Mulher Vaidosa”, que o público sempre pedia bis.   Passou dois anos morando no fusca 1973, azul, o mesmo que nos últimos anos tentava, a todo custo, que fosse reformado no quadro Lata Velha, do Luciano Huck.
Quanto ao fusca, Brega relatou que enquanto não conseguia a reforma global, alguns  amigos tinham mandado para uma oficina em Porto Velho e que ele esperava em breve ter o seu carro de volta. Mas na verdade ele não tinha muita certeza sobre isso, pois se mostrava confuso quanto ao destino do antigo veículo.
A vida de Roberto Brega em nada se parecia com a do ídolo de quem ele adotou o nome. O único CD que conseguiu gravar foi uma matriz e sonhava com  a sua reprodução e distribuição em muitos pontos de vendas. Passados os anos e sem condição nenhuma de se apresentar, Brega passou a depender da caridade popular. O cartaz, anunciando seu show estava surrado, rasgado e sujo. Suas vestes  gastas também despertavam compaixão, mas ele não abandonava o estilo Roberto Brega de se vestir. Os cabelos emaranhados e a longa barba estavam incorporados ao seu estilo.  Pessoalmente, não me lembro desde quando ele estava em Porto Velho e acho que nem ele se lembrava, pois sempre que falava sobre este tema ele abordava outro assunto. Talvez haja em nossos jornais matérias informativas desse tempo, mas agora não tenho como verificar.
Bom seria se houvesse apenas este Roberto Brega, mas nossas cidades estão cheias de homens e mulheres que se perdem diariamente em sonhos, que para a maioria são inatingíveis. Alguns ficam na ilusão, outros apelam para as drogas, outros enfermam com a depressão. Cada um busca a sua válvula de escape. Brega chamou a atenção de muitos, mas poucos olharam para ele de verdade, e eu me incluo nestes muitos.  É provável que logo tenhamos outros Bregas nos semáforos de nossa cidade, aliás, acho que já temos. A maioria ainda é jovem, mas o tempo passa rápido e o fim de muitos talvez seja o de uma morte solitária em um canto qualquer. Acho que vale pensar em algo que  possamos fazer.


Estilo Roberto Brega de ser, inconfundível.  



segunda-feira, 19 de novembro de 2018

AS MENINAS DA BRAZILIAN FOOD


              
Olha nós ai. Teve até uma relíquia, a sacola plástica personalizada. Encontrei nos guardados do meu irmão e colega de trabalho Ademilson.

Não dá para lembrar com total clareza tudo que aconteceu na década de 80, mas sem dúvida foi uma época muito importante para mim. E, esta semana (terceira semana de outubro de 2018) tive  a oportunidade de movimentar um pouco os baús do passado, quando encontrei algumas queridas ex-colegas de trabalho e que com o passar do tempo passaram para a categoria de amigas, algumas por afinidade, outras pelos ministérios da vida, que nos liga a pessoas incríveis em todos os lugares.
A Brazilian Food, sem dúvida nenhuma, foi a melhor empresa privada em que trabalhei. Cheguei, se não me engano, em 1983 ou 84, estava estudando Jornalismo  na Faculdade de Comunicação Social em Bonsucesso. A Valéria Igreja, que hoje é também Moreira, uma colega de turma,  tinha sido contratada por uma empresa temporária, se não me engano a Gelre, e prestava serviços na BF. Ela me falou da empresa e disse que estavam precisando de uma faturista, arrisquei e fui admitida para preencher  notas fiscais. Era tudo na munheca. Todos os dias eram inúmeras notas fiscais, mas acho que não demorou muito este processo, porque logo veio a tecnologia e fui aproveitada na Gerência de Produção (Gerop) para outras atividades. O trabalho era de peão mesmo basta pensar no nome: p r o d u ç ã o. Trabalhávamos muito e acho que não seria exagero dizer que sem o nosso trabalho a empresa parava. Mas amávamos o nosso departamento, dávamos o nosso sangue por ele. Pelo menos era assim que eu pensava naquele tempo. Não tínhamos horário para sair, especialmente nos últimos dias do mês e trabalhar aos sábados era muito comum.
Mas o tempo  passou, e eu tinha   um projeto em mente: ser repórter. No término  da Faculdade optei por deixar a empresa, da qual me desliguei em fevereiro de 1986.   Me mudei para o Norte do país, e realizei o meu sonho. Constitui família, virei funcionária pública e agora já aposentada eis que do nada surge a oportunidade deste encontro.  Mas deixa eu relatar que  em novembro de 1986, quando vim ao Rio depois de ter me mudado para Porto Velho, que um grupo de colegas da Gerop foi me recepcionar no aeroporto do Galeão, mas o avião da Varig apresentou um problema técnico e pernoitou em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A saudade era grande de ambas as partes e a turma preparou cartazes para me recepcionar, nos quais escreveram frases tipo: “A Gerop está aqui”, “Neguinha te amamos” e outras coisas. Recebi os cartazes,  mas sem a euforia do aeroporto. Até hoje fico pensando no frenesi e na disposição daquele pessoal em deixar tudo para ir ao aeroporto me receber com Boas Vindas. Voltando ao assunto, trabalhávamos   na avenida Rio Branco 109, no coração do centro comercial e financeiro do Rio de Janeiro. E nosso encontro não poderia ser em outro lugar, que não o já antigo McDonald em frente ao nosso antigo endereço.  Há uns dois ou três anos tentamos realizar um encontro, mas não deu certo, acho que era época de férias e ai a programação falhou. Mas agora, foi assim, tudo muito rápido e rasteiro. Avisei que estava no Rio e logo veio uma proposta. O whatsApp foi nosso melhor parceiro, porque em poucas horas algumas pessoas foram acionadas e todas de acordo marcamos o encontro para a semana seguinte, com dia e horário preestabelecidos.


Tínhamos um time vencedor na Gerop.


O ENCONTRO
Pra começo de conversa, é bom salientar que ninguém chegou atrasado, ou melhor, atrasada, visto que neste primeiro momento apenas as meninas participaram. Eu não consegui definir com clareza na minha mente o que esperava encontrar, afinal de contas há 30 anos não via aquelas pessoas. E algumas delas, depois eu soube, não se viam há pelo menos 20 anos, ou desde o fechamento da empresa, se não me engano.  Para amenizar a ansiedade  fui de trem e fiquei surpresa com a qualidade dos serviços. Trens limpos e novos, sem pichação. E no horário.  O encontro era para as 13h30, mas às 12 horas desembarquei na Central do Brasil. Fiz um deslocamento tranquilo. Passeei no Campo de Santana, parei em algumas lojas na Buenos Aires e já no Mercado das Flores atravessei para a Rua do Rosário e já nos primeiros passos da Rio Branco avistei minhas queridas  irmãs, porque é assim, nós mulheres acabamos todas sendo irmãs, especialmente quando temos três décadas de relacionamento. É incrível, mas a sensação que tive foi de que estivemos juntas a vida toda. Todas tinham a mesma fisionomia do tempo da Gerop, mesmo com as marcas do tempo em cada rosto.  Ao meu ver, estão mais belas e com muito mais afinidades do que antes. Não tivemos lágrimas, mas muitos abraços apertados e alegria. Como bem definiu uma delas, foi mágico.
Estivemos juntas por pouco tempo, mas foi excelente. Falamos alto, fizemos barulho, tiramos fotos e quando achávamos que alguém na lanchonete estava se incomodando com o nosso barulho, havia sempre uma explicação: há muito tempo não nos vemos. 
O encontro provocou a criação em um grupo de WhatsApp, até então, algumas de nós  nos falávamos individualmente, mas agora temos um grupo que está ganhando adesões de outros ex-funcionários da BF e já se fala em um encontro maior em janeiro de 2019.
Ainda nem contei quem estava lá: Ana Avelino, Mara Nádia, Marlene Cavalcanti, Rosângela Lima, Rosália Gonçalves, Cristina e eu. Cristina entrou na empresa depois que eu deixei a BF, e quando soube do encontro, mesmo com limitações se dispôs a participar.  Outros também disseram que gostariam de ter participado, mas acho que para o primeiro momento tivemos tudo que precisávamos. Agora, a partir de 2019 fica por conta do pessoal se organizar e manter o grupo unido. As redes sociais são muito legais, mas nada como ter a oportunidade de ver e de tocar as pessoas a quem queremos bem.



Lembranças de 1986. Muito amor envolvido.
Muitos colegas e amigos que participaram desta
recepção que acabou não acontecendo não estão citados no texto, porque na verdade, nem sei exatamente quem esteve lá.
Mas receber os cartazes dias após a minha chegada foi de fato incrível.




Obrigada irmãs queridas pela maravilhosa oportunidade de estar com vocês. Realmente foi Mágico.
Há sempre algo emocionante acontecendo no Rio de Janeiro, em especial o carinho e amizade que a distância e o tempo não conseguiram apagar. 


domingo, 2 de setembro de 2018

UM ALMOÇO NA TOWNSHIP


Os cinco passos do almoço na Township Gugulethu em Cape Town 


Restaurante Mzoli's na Township Guguleth em Cape Town
 Há dias minha amiga Luciana tem me falado desse almoço na Township Gugulethu e hoje era a minha, digamos assim, última oportunidade de conhecer o lugar. Se alguém quiser uma definição prática para township,  é o lugar onde moram as pessoas pobres. A maioria, eu creio, são trabalhadores, mas tem também a rapaziada que não faz nada, ou melhor, faz sim, tira os bens dos que trabalham na marra. Por isso todo mundo diz que é muito perigoso ir até lá. São muitas as recomendações, uso do celular, nem pensar. Abrir a carteira em público, só se for louco.
Enfim saímos para a Township. O motorista que nos levou já é um velho conhecido da Luciana. No carro as recomendações. Nossa amiga Helena de Angola ficou preocupada, mas superou logo, depois foi o Kalid, um saudita gente boa, que como nós está a estudar aqui, como diria Helena. Kalid não aprovou muito, mas agora já era tarde. Nosso destino já estava selado. Eu estava tranquila, mas tinha pensado que o motorista ia ficar lá conosco, mas qual a surpresa, ele nos deixou para retornar assim que solicitássemos a volta.  
Pois bem, o lugar não é longe de Rondebosch, nosso ponto de partida e ainda passamos pra pegar os demais em Claremont. Certamente, por ser domingo, o trânsito estava uma maravilha. Conforme que vamos deixando o subúrbio deste lado de Cape Town, vamos também observando a mudança no cenário. As de agora parecem menores e à medida que avançamos vamos constatando que há lixo espalhado em algumas ruas.   Por onde passamos agora a presença dos negros é mais forte e mais constante. E por ai vai.

Chegamos em Gugulethu. O restaurante fica logo na entrada da comunidade. Felizmente chegamos cedo, quando o movimento ainda não é muito intenso e descobrimos que há dois ambientes. 
A escolha da carne é fundamental
No primeiro que é um açougue próprio do restaurante, o cliente escolhe a carne. Tem bovina, suína e frango, além da linguiça de porco. A atendente pesa cada item separadamente pergunta se quer molho e manda para o caixa, onde fazemos o pagamento e recebemos 
O cliente define o tamanho do prato
o prato (ouvi um questionamento  indiscreto: “vamos comer cru?”). Mas deixa isso pra lá.
Com o prato nas mãos,  seguimos em um corredor e chegamos  ao churrasqueiro que recebe o prato e manda que retornemos  em quinze minutos. Nesse meio tempo podemos fazer o que  quisermos, mas como ainda estamos  assustado pelas recomendações, nos refugiamos no interior do restaurante. Do lado de fora há vendedores de camisetas, bonés, chaveiros, colares e outros souvenirs.

Mas na primeira passada nem dá pra ver nada disso. Só  depois.
Churrasqueiros no controle
Os quinze minutos de espera da carne assada funcionam também como um relaxamento, a medida que vamos nos familiarizando com o ambiente. O salão é simples. A maioria das cadeiras de plástico e bem usadas, o piso é cimentado e rústico. As mesas são meio que improvisadas e cobertas por toalhas plásticas. No meio de tudo, um som, que para mim que não estou acostumada, ensurdecedor, comandado por um Djei.  Não faltou o carimbo na mão pra marcar quem entra e quem sai.
Conforme a hora vai passando o público vai chegando. Muitos turistas, mas também muitos locais. Na África do Sul é proibido ingerir bebida alcoólica na rua, mas em bares e restaurantes não tem problema e pra variar, parece que as pessoas gostam mais de beber do que de comer. Mas tudo sem nenhuma alteração, pelo menos durante o tempo que permaneci por lá.

Assada no ponto
Mas voltando à comida, passado  os 15 minutos, ou um pouquinho mais o cliente retorna ao outro ambiente e recebe seu prato. Não há uso de talheres. Os turistas se contentam com a carne, os nativos, em geral, acrescentam outros pratos típicos, como o pap, por exemplo. Uma polenta feita de farinha de milho branco. A pessoa come e literalmente lambe os dedos.
O mais legal é o preço, que não é dos mais caros e ainda tem a vantagem de fazer o pedido mais de uma vez, caso alguém queira repetir.
Não sobra quase nada.  Só os ossos e excesso de gordura. 
Não vi desperdício e se sobra, o cliente leva pra casa. O restaurante chama-se Mzolii’s Meat. Uma delícia. 





quarta-feira, 29 de agosto de 2018

PASTA KICHEN Projeto completa um ano atendento homeless em Cape Town



Projeto reúne voluntários e moradores de rua de Observatory e arredores em Cape Town, na África do Sul.

Jantar de aniversário foi especial e reuniu mais  de 100 pessoas


Toda semana uma foto especial certifica quem esteve presente no evento

Preocupação de criança: brincar e ser feliz
Em uma rua curta e residencial do subúrbio de Observatory, na simpática Cape Town a tarde vai chegando ao fim. A noite ainda demora um pouco para se apresentar, mas o frio do inverno chega rápido. Hoje é quarta-feira e aos poucos moradores de rua de Observatory vão chegando para a noite da macarronada  no salão da Igreja Anglicana Santo Michael. Hoje o dia é especial, porque o Projeto Obs The Pasta Kichen está completando um ano.  

Eles chegam tímidos e silenciosos. Os passos parecem pesados e vacilantes. Mas, ao atravessarem  a porta do salão causam a impressão de que estão mais aliviados. A partir de então, trocam sorrisos largos, cumprimentam os amigos. Parece,  que por um pouco de tempo, esquecem das mazelas da vida e do frio que faz lá fora. A maioria é natural de Cape Town, mas há pessoas de Moçambique e  Zimbábue. Possivelmente até de outros países, uma vez que é grande a migração por aqui. Talvez, por ser uma noite de festa, o projeto desta quarta atraiu um número maior de participantes, no salão  havia mais de 100 pessoas e  seguramente 70% do público era de homeless.
Música ambiente, um período de relaxamento e uma performance musical apresentada pela Celinea, uma beneficiária do projeto dão início ao programa da noite. Pouco depois das seis o jantar começou   a ser servido, como sempre, a macarronada estava uma delícia, o segredo? Parece que é o amor que aquelas pessoas dedicam àquele trabalho  simples, nobre  e gratificante.  E como não há aniversário sem bolo, não faltou o parabéns pra você e os famosos cupcakes. E pra surpresa geral teve até brigadeiro à moda brasileira.  E para aquecer os corações todos puderam saborear um delicioso chocolate   quente.
A música  para descontrair e relaxar fica por conta do Okurt, que toda semana marca presença 
O The Obs Pasta Kichen tem mostrado a todos que participam dele, seja como beneficiário ou voluntário que não se trata apenas de oferecer um prato de comida para pessoas que vivem em estado de vulnerabilidade, mas proporcionar um tempo, mesmo que curto, de solidariedade e de compaixão. 
Um pouco de atenção às vezes é tudo que se precisa

Parece que não  há nada mais precioso do que receber o toque de carinho de uma mão amiga ou  um sorriso sincero. Foi assim que Gilbert se sentiu hoje. Ele e a companheira  Estelle e os dois filhos participaram pela primeira vez  do  Pasta Kichen e disseram que foi muito bom.  Com este primeiro aniversário o projeto vem cumprindo o seu papel e já tem dado passos maiores, buscando inserir homeless no mercado de trabalho, resgatando assim a dignidade de muitos.
Cupcakes e brigadeiros para a celebrar o aniversário do projeto
Todas às quartas-feiras, a partir das 5  horas da tarde, o grupo de voluntários se reúne no salão da Igreja Anglicana St. Michael, em Observatory, onde prepara a macarronada. O endereço é um pouco longe, pois fica no continente africano, mas pra quem pensa em aparecer pela Cidade do Cabo, fica a dica.




Tempero da macarronada: Amor ao próximo

Solidariedade

Compaixão




quarta-feira, 22 de agosto de 2018

HAPPY BIRTHDAY!

VINTE E DOIS DE AGOSTO - UM DIA MUITO ESPECIAL

Long time ago iniciei uma viagem. Não sabia o destino, mas tinha a certeza absoluta de que queria realizá-la, apesar de achar que me faltava maturidade. Também não sabia   se teria força suficiente  para empreendê-la.   Mesmo distante,  apegava-me  a Deus e  cada dia renovava meu pedido, sempre clamando por socorro e condições de fazer uma boa viagem. 










                                          ANIMAIS - Uma paixão que começou cedo

O tempo foi passando e no dia previsto para sua chegada pude finalmente ver parte daquele projeto executado. A partir de então já não era a minha viagem, mas a nossa. Confesso que a viagem ficou muito mais difícil do que no começo. Olhava pra você tão pequena  e indefesa  e desejava guardá-la de novo dentro de mim, para que ninguém pudesse lhe fazer mal. Mas não tinha mais jeito. A partir dali era tudo ou nada.


Ao longo desta viagem vivemos dias muitos difíceis, mas também têm sido incontáveis os  dias felizes.  O tempo continuou passando  e aquela menininha indefesa transformou-se em uma pessoa extraordinária, uma profissional por excelência. Uma mulher extremamente forte, mas ao mesmo tempo sensível, ora uma gatinha frágil, ora uma leoa, pronta para defender seus ideais.
Hoje, quando ouço pessoas se referindo a você, falando mais de suas qualidades do que dos seus  defeitos, porque felizmente ninguém é perfeito,  fico imaginando o quanto Deus tem sido  maravilhoso conosco ao longo de todo este tempo. Creio que temos um longo percurso para percorrer, e desejo muito que nossa viagem continue com dias ensolarados e noites tranquilas, mas mesmo quando houver noites tempestuosas,  possamos sempre contar com a compreensão mútua de saber que onde quer que estejamos temos sempre o refúgio dos braços e do colo de mãe e filha.

Para você  Raísa Tavares Thomaz dedico hoje todo o meu amor, desejando-lhe um Happy Birthday, completo de alegrias e de realizações.
 
O esrilo Mama  Árrica


Divulgação da Reforma do Plano Diretor a meta do momento

domingo, 19 de agosto de 2018

A INCREDULIDADE NAAMÃ E MEU ENGLISH

A vista de um dos cruzamentos entre bairros do subúrbio de Cape Town
 Estamos chegando na reta final do Intercâmbio. Mais três semanas de aula e finish
Uma etapa importante da vida concluída. O que fazer daqui pra frente? Qual o novo objetivo?
Uma coisa de cada vez, porque muitos pensamentos ao mesmo tempo me deixam atrapalhada. 
Por alguns dias passou pela minha cabeça o desejo de esticar minha permanência por aqui por uma nove ou dez semanas a mais.  Fiz até umas pesquisas nas companhias aéreas, rascunhei um e-mail para a escola solicitando um orçamento, mas desisti. 
Primeiro porque ia perder uma grana que não posso me dar ao luxo de jogar pela janela. Afinal,  não posso esquecer que sou aposentada e vivo em um país em que as condições econômicas e financeiras são precárias, além de termos sempre uma ameça sobre mudanças no sistema previdenciário. 
Segundo, porque organizei a minha vida para três meses de ausência em casa. Se bem que tudo por lá me parece estar sob controle e em melhores condições com a nova direção. 
E por último, se não me engano, e o mais importante talvez, o meu desempenho na nova língua. De fato, nem tudo acontece como se imagina. Pra quem conhece a estória de um homem chamado Naamã, um personagem extraordinário da Bíblia, lá no Velho Testamento, acho que tive um pensamento parecido com o dele, embora tenha consciência de que não seria assim. Vou explicar melhor:
Naamã era um homem muito importante no exercito do rei da Síria. Era o general cinco estrelas que comandava todo o exercito e talvez ocupasse até o cargo de ministro militar. Pois bem, Naamã tinha um problema sério: ele era leproso e a lepra naquele tempo era a pior de todas as doenças, porque obrigava ao doente viver uma vida segregada. Talvez pela importância de seu cargo e pelos recursos que devia possuir, Naamã não precisou viver totalmente longe do convívio social. Mas a lepra o tornava diferente. 
Um dia, uma adolescente  talvez, levada entre os despojos e cativos de Samaria, após uma investida vitoriosa do exercito de Naamã, acabou indo servir na casa deste homem.   Lá, ela contemplou a situação e confidenciou a esposa de Naamã, que se este pudesse ir diante do profeta Eliseu em Samaria, ele certamente sararia da lepra. 
A menina era uma escrava, mas sua voz foi ouvida e valorizada e a esposa de Naamã relatou a ele tal possibilidade. Naamã por sua vez levou o assunto ao rei da Síria que escreveu cartas ao rei de Samaria, pedindo que houvesse uma intermediação para  que Naamã chegasse ao profeta. 
Mas pra finalizar, Naamã foi a Samaria e não foi recebido pelo profeta que lhe mandou uma mensagem: mergulhar no Rio Jordão sete vezes. O general ficou indignado, afinal, viera de tão longe, tivera tanto trabalho e não foi recebido pelo profeta, afinal quem era este, diante da importância de uma autoridade militar estrangeira e que trazia cartas seladas pelo próprio rei?
Naamã esperava ser recebido, ter suas feridas tocadas e ser curado. 
Quanto a mim, acho que eu esperava chegar aqui e com uma semana ter os ouvidos destampados para entender todos os sons e fonemas desta língua extraordinária. 
Mas não foi assim, porque as coisas não são como parecem ser. As pessoas são dotadas de habilidades, aos 58 ainda não sei bem quais são as minhas, mas certamente  aprender uma outra língua num abrir e fechar de olhos ou com algumas semanas de convivência, não é uma delas. 
O graduado militar foi convencido pelos seus soldados a mergulhar no Jordão, e assim o fez, mesmo a contra gosto e ficou curado. Eu vou voltar pra casa e continuar a estudar. Não sei quanto tempo me resta, mas espero ter forças para continuar, porque os desafios desta vida muitas vezes nos levam ao desânimo e cansaço, mas quando temos nossas forças renovadas podemos contemplar um horizonte com muitas possibilidades. 
 
Waterfront - Onde todos os turistas se encontram em Cape Town





sexta-feira, 17 de agosto de 2018

MOMOKA'S SUSHI


Saudades de você Momoka

                   Ela diz que não tem segredo e que é muito fácil, rápido e prático preparar o sushi

Ela chegou à escola há três semanas. Hoje se despediu da turma e já deixou saudades.  Momoka Nagai, praticamente uma menina aos 18 anos, mora em Osaka no Japão e veio a Cape Town pela segunda vez em visita familiar. Desta vez aproveitou para gastar o tempo no intercâmbio, uma escolha inteligente.
A japonesinha, com o nome engraçado, e que quase ninguém acerta falar, mesmo três semanas depois, chegou muito tímida. No primeiro dia, ao final da  aula admitiu que estava confusa, mas não desistiu.  Passados alguns dias ela deslanchou  e se não tivesse que retornar ao Japão,  onde está concluindo o ensino médio, ninguém ia segurá-la.
Momoka também é uma pessoa doce, agradável e atenciosa. E faz um sushi extraordinário. Eu que nem gostava de sushi, adorei. A professora Portia, uma admiradora da culinária japonesa, desde que experimentou a iguaria  feita pelas mãos de Momoka, há duas semanas, na despedida de outra ilustre estudante, Renad, uma  universitária saudita que mora em Riyadh, não se  cansava de elogiar a talentosa oriental.  E hoje teve reprise. Atendendo a verdadeiros clamores Momoka mais uma vez nos presenteou com outra rodada de sushi. Desta vez recebemos até convidadas, que vieram da turma do Advance para experimentar e aprovar o sabor especial do verdadeiro sushi.
A temperatura nem estava pra sorvete, mas como combinado, fomos de ice cream com Momoka, porque é a sobremesa favorita dela. Na foto nossa turma: Momoka, Alice, João, Ali, professora Portia, Lucila e Khalid.




Para  Momoka nossas sinceras homenagens, torcendo pelo seu “successlful”, adjetivo tão praticado nos últimos dias em nossa classe de English.



Não poderia esquecer nosso colega Ayoub que deixou a turma na semana passada, retornando ao Iêmen, onde mora e está  concluindo o Ensino Médio. Estudamos juntos desde que cheguei por aqui.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

PASTA KITCHEN - O DIA DA MACARRONADA


Final do jantar hora de pose para fotografias

Se somos sobressaltados com acontecimentos ruins, também temos a sorte de conferir boas ações, que certamente não vão salvar o mundo, mas podem muito bem aliviar a dor de um estômago vazio numa triste noite de inverno. Assim terminou o dia, no salão social de uma igreja anglicana no bairro de Observatory, bem próximo ao Centro de Cape Town.


O projeto leva além do nome do bairro, o título de Pasta Kitchen. Ao invés da tradicional sopa servida a muitos carentes, o projeto oferece todas as quartas-feiras uma bela e deliciosa macarronada a cerca de 40 moradores de Rua de Observatory.
Os voluntários chegam cedo para cozinhar o macarrão, preparar o molho, ralar o queijo e arrumar as mesas e o salão. Quando os homeless começam a chegar vão sentando e pondo a conversa em dia. Conversam entre si e com os voluntários, homens e mulheres jovens e adultos, estudantes de intercâmbio ou não, que além da vivência desejam expressar aos homeless que se preocupam com eles. Alguns já são frequentadores antigos, outros chegaram mais recentemente, mas o sentimento é comum a todos: participar do jantar das quartas.
Neste mês o projeto completa seu primeiro aniversário. A macarronada começou a ser servida na rua. Os organizadores preparavam tudo em uma pequena cozinha, cedida por uma pizzaria nas proximidades, que também é apoiadora do projeto, e reunia na rua mesmo os homeless e  ali os servia. 
Os voluntários relatam que dirigentes da Parish Church of St. Michael and ALL Angels (Igreja Anglicana), vendo aquele esforço ofereceram o salão social para a preparação e serviço do jantar. O lugar é aconchegante e permite  aos moradores de rua a utilização dos banheiros.
Toda quarta tem gente nova, como eu, por exemplo, que participei pela primeira vez, a convite da Luciana, uma colega de curso. Aqeela, uma cidadã de Cape Town também estreou nesta quarta. Ela soube do projeto pela rede social (Instagram). O brasileiro Kauê também estreou hoje.  Como ele, o projeto conta com outros estudantes brasileiros, como a Brenda, o Vinícius, a Luciana, entre outros.
Dani  Saporentti é uma das  idealizadoras do Observatory Pasta Kitchen. Ela coordena de perto todo o trabalho, orienta os voluntários e leva  todos a um momento de reflexão, minutos antes do jantar ser servido. 
Nolan é um homeless. Ele tem 55 anos e diz que fica feliz pelo carinho e atenção que recebe  no projeto. Segundo ele, não é só a refeição que importa, mas principalmente a forma como é tratado por todos. 
Matthew acompanha o Pasta Kitchen desde o início. Ele conta que está estudando a Bíblia, porque quer ajudar aos demais moradores de rua a terem um encontro com Deus.  Cathrine  tem 40 anos, além dela e do marido Chris, de 43, participaram no jantar  os filhos Andrew, de 15, Sebastian de 9 e Justin de 5. A família vive em Healthfield e segundo ela, contar com uma refeição feita na hora e especialmente para eles é muito bom. Um dos pontos mais marcantes do encontro, é que os voluntários servem os homeless e sentam-se à mesa para comer junto com eles.  O macarrão e os complementos – queijo e molho – são doações dos organizadores e voluntários. Sem contar que como é feito com amor, tudo é uma delícia.
Família de Cathrine e Chris
O projeto também prevê a reintegração dos homeless à sociedade, ajudando os na capacitação e na conquista de um lugar no mercado de trabalho.  Às quartas-feiras, durante o dia, são desenvolvidas algumas atividades e workshops com este objetivo.  

Brincadeiras e distrações para as crianças


Homeless é a expressão usada para identificar os sem-teto.