sábado, 28 de dezembro de 2019

CONHECENDO PESSOAS E FAZENDO AMIZADES

PROJETO CONHECER A AMAZÔNIA I

Texto 3


Passada a novidade, a viagem segue uma rotina, às vezes somos tomados pela ansiedade, mas pensamos que ainda faltam muitos dias e que o melhor é acalmar o coração. Ainda assim, há passageiros que três dias antes da chegada não param de falar da hora exata em que vão concluir a viagem. Por vezes, pode ser um pouco massante, mas é extremamente agradável pensar que por um curto período estamos no meio do nada, cercados por águas, peixes, botos que nos rodeiam, sem que consigamos fotografá-los, umas casinhas aqui outras acolá. Às vezes uma pequena vila de pescadores. Enfim, vamos nos apropriando da paisagem e mesmo de longe percebemos a beleza da beira rio. Por vezes até imaginamos se seria possível morar assim, em um lugar tão distante, sem transporte e muitas vezes sem energia elétrica. 
E envolvida em tantos pensamentos uma noite mais chegou, desta vez empurrada por um forte vento. Toalhas, lençois e papeis voavam pelo redário.  Vazias as redes subiam e desciam num louco e colorido balé. Se a noite anterior estava escura, esta está muito mais. E um pensamento me sobressalta: talvez seja uma noite trabalhosa para a tripulação e perigosa para nós. Mas enfim, é Deus no comando e vamos confiar. 
Conheci no barco uma passageira de 14 anos com um bebê de oito meses nos braços.  A adolescente viajava sem a supervisão de um adulto. Na verdade, ela estava indo encontrar-se com a mãe em Novo Aripuanã, pois o bebê que estava acostumado com o convívio com a avó, desde que esta viajara há duas ou três semanas, ficara doente. 
A menina tem uma história de vida bem intensa. Aos dez anos chegou em Porto Velho e foi morar em uma casa com dois irmãos menores, arrumou um namorado um pouco  mais velho que passou a morar junto, na mesma casa, assumindo a responsabilidade do sustento da família. Mas ela diz que não estava dando mais certo e não gostava mais dele o suficiente para ficar junto e  antes que o bebê nascesse eles  se separaram,  mas  ela já tem outro companheiro. Ufa, haja fôlego para aguentar a disposição dessa garota.
Conheci um outro casal também interessante, passageiros da cabine especial, moradores de Manaus. Estão casados há pouco mais de um ano, mas confesso que não gostei da forma como ele trata a esposa, sempre enfatizando que se casou com uma moça velha, como se tivesse feito um favor para ela. Nas conversas o primeiro a falar tinha que ser ele e quando a esposa falava algo, ele faltava chamá-la de burra, tapada. Um grosso mesmo. Mas reconhece que sua vida melhorou muito desde o casamento com a manauara. Os dois têm pouco mais de 50 anos. 

No segundo dia de viagem o dia amanheceu esplendido, mesmo com a chuva que insistiu em cair na madrugada. Passamos por um forte vento, que nos obrigou a descer os toldos da embarcação, mas felizmente foi de curta duração e o dia foi de uma marola gostosa, com uma brisa suave durante todo o dia, permitindo um clima bem  agradável. 
Ao meio-dia chegamos a Manicoré. O barco nem ancorou. A cidade estava em festa e por isso o porto estava tomado de embarações e para chegar ao local de desembarque os passageiros foram levados de voadeira. A princípio, nossa chegada em Manaus estava prevista para sábado, uma vez que a embarcação deixou Porto Velho na quarta-feira a tarde, mas desembarque sábado na capital amazonense já estava descartado pela maioria
A refeição é sempre motivo de interação

Quando bate aquele desânimo o melhor lugar é a rede

Novos amigos

Desembarque de voaeira na noite escura