quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

KARITIANA EXPÕE ARTESANATO NA SETE DE SETEMBRO


Colares e brincos de sementes de açaí e  abacaba  

A produção e venda de artesanato tem sido o meio de vida de muitos indígenas que têm trocado as aldeias pela vida urbana. Raimunda Karitiana é uma dessas. Juntos, ela e a família produzem artesanato  para uso pessoal e peças decorativas. 

Dona Raimunda Karitiana é uma indígena da etnia karitiana, como seu nome já diz. Junto com a família ela mora em Porto Velho e trabalha com artesanato indígena. Suas peças ficam expostas na avenida Sete de Setembro, em frente à Galeria do Clube Ferroviário.

Maracas feitas com coco, cabaça e coco de anta

Brincos, maracas, prendedores de cabelo e cocares são alguns dos produtos produzidos e comercializados por  ela, cujos preços variam de 10 a 800 reais.

Sementes de abacaba, açaí, pedras de jarina, naja, coco, goiaba de anta, penas de mutum e arara são algumas das matérias primas utilizadas.





Brincos

Os índios karitianos vivem no município de  Porto Velho. A aldeia central está localizada a cerca de 100 km da cidade, lá vive a maioria da etnia, que hoje, de acordo com a Funai tem pouco mais de 300 pessoas.  Devido a proximidade da cidade com a aldeia é muito comum a presença deles na cidade, especialmente na região do Centro.


A karitiana Raimunda e seus cocares de com penas de mutum e de arara

 Quem estiver interessado em artesanato indígena pode também pode procurar d. Raimunda em casa, no bairro Baixa União, próximo a Feira do Produtor. Ou entrar em contato pelo telefone (69) 99299-2154.


Os artesanatos são vendidos na avenida Sete de Setembro em Porto Velho



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

RITA QUEIROZ PREPARA LIVRO SOBRE SUA ARTE

 

O livro Andando pelas Picadas - Arte e Vida da artista plástica Rita Queiroz é o relato de eventos vividos por ela desde a primeira exposição em 1978 no Selton Hotel em Porto Velho. "Nem tudo está sendo tratado nesta publicação, mas abordamos alguns acontecimentos interessantes", adianta a artista. 

                                                                     Mistério da noite

Andando pelas Picadas – Arte e Vida da artista plástica Rita Queiroz. Este é o título do livro que será lançado, provavelmente em abril, por Rita Queiroz. Ele faz parte do   projeto que atende ao edital nº   86/2020/Sejucel-Codec 1ª edição Marechal Rondon do edital de chamamento público para publicação   e difusão de expressões culturais da Superintendência da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel).

                      Seringal Santa Catarina

O projeto consiste na elaboração e publicação de um livro inédito impresso sobre a artista plástica rondoniense Rita Queiroz para distribuição gratuita em escolas públicas, universidades, bibliotecas, centros de cultura, fundações e associações de cunho cultural e museus do Estado de Rondônia.

A iniciativa do governo, baseada na lei Aldir Blanc, uma vez que o projeto tem como fonte principal de recursos o governo federal, tem como objetivo  fomentar a leitura e aproximar os leitores dos conhecimentos sobre a arte e a cultura rondoniense, promover a difusão de expressões culturas no âmbito das artes plásticas, democratizar o conhecimento por meio da distribuição gratuita dos livros publicados, atuar como ferramenta para ações educativas e novas iniciativas no campo de projetos sócio culturais  e estimular a preservação ambiental e identidade cultural por meio da arte, lendas e folclores populares. De acordo com a artista, o livro tem potencial para gerar interesse em um amplo público incluindo  artistas,  gestores culturais, professores, jornalistas, ambientalistas, historiadores, pesquisadores, entre outros, mas o alvo principal  é população em idade escolar, em especial jovens. 

                   Por do sol no seringal

De acordo com o edital da Sejucel, o projeto trata    da publicação de  um livro sobre a artista plástica rondoniense, pioneira no movimento cultural do Estado desde a década de 70, que se tornou uma personalidade de grande notoriedade, reconhecida e premiada pelos seus trabalhos que sempre revelam grande preocupação com a preservação e valorização da cultura regional. “Não é uma biografia, mas o relato de minhas experiências ao longo de mais de 40 anos de dedicação às artes”, declara Rita Queiroz. Segundo ela, que está trabalhando incansavelmente para atender o prazo da Sejucel,  o livro terá textos e ilustrações de suas obras. “Estou preocupada em fazer um trabalho bonito e agradável para que as pessoas tenham prazer em manusear”.

Andando pelas Picadas – Arte e Vida da artista plástica Rita Queiroz, certamente vai confirmar a importância que a artista tem  para o cenário cultural não só de Rondônia, mas para o país. E a publicação de um livro inédito sobre sua jornada como artista plástica, contribuíra para a preservação da memória e patrimônio cultural da   Amazônia.

Fotofrafias do site www.ritaqueiroz.com.br


PESQUISADORES APONTAM A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ARTE REGIONAL NA ESCOLA

A arte, segundo Rita Queiroz, muda o ser, experiência que ela tem de si própria. Por isso é uma antiga defensora de que, especialmente  as pessoas que vivem em qualquer  grau de vulnerabilidade, como crianças, apenados, menores infratores,  pacientes psiquiátricos entre outros, necessitam de alguma forma de envolvimento com a arte. Em um artigo acadêmico especialistas em educação da Universidade Federal  de Rondônia e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia  defendem a importância do ensino da arte em sala de aula, em especial no ensino fundamental,  e indicam, que o  melhor investimento deve ser feito com os artistas regionais, com os quais os alunos se identificariam com maior facilidade. 

                                                               

A artista Rita Queiroz  em ação

A Revista Gestão Universitária, uma publicação especializada em artigos universitários,  publicou em sua edição de novembro de 2019 um artigo acadêmico, produzido por meio de pesquisa bibliográfica, que procura apresentar a Arte na Geografia Cultural, mostrando que é possível obter aprendizagens significativas no espaço escolar, a partir de aspectos artísticos culturais, utilizando como exemplo a leitura das obras da artista plástica e escritora Rita Queiroz.    

De acordo com as pesquisas desenvolvidas pelos educadores, a escola é um local propício para ensinar e aprender arte. Confirmando um dos pensamentos de Rita Queiroz que há muito defende a necessidade de interação  entre a escola e a arte, tanto que tem insistido junto à rede escolar e aos professores que levem seus alunos às exposições e que lhes oportunize uma vivência maior com a arte.

O principal objetivo do artigo foi traçar um paralelo entre a obra de Rita  e as possiblidades de leituras em arte nos espaços escolares, valorizando as identidades regionais em contextos amazônicos. Salientando que “nesse aspecto, podemos tecer alguns questionamentos, a saber: é possível obter aprendizagens significativas no espaço escolar a partir de aspectos artísticos culturais, levando em consideração a leitura das obras de arte da artista plástica e escritora Rita Queiroz?”

”Rita Queiroz é a representação da mistura da mulher nativa, originária dos seringais rondonienses, com a mulher de hoje, que circula pelas nossas ruas, num misto de floresta com modernidade. Essa mulher convive com a vida moderna e com a arte, levando o mundo ribeirinho além das fronteiras regionais, sem perder a referência cultural. A sua arte é voltada para as imagens regionais, a poeticidade transforma-a em uma cabocla urbana”, é um ponto de vista citado no estudo, baseado  no que escreveu Nilza Menezes no livro que conta a vivência da artista plástica na região ribeirinha onde nasceu, às margens do Rio Madeira. Para os autores, Nilza aponta para o início de um novo ciclo na vida de Rita, agora o urbano. “Quando ocorre a mistura de modelos culturais, aflorando nela o perfil artístico. No caso a arte torna a manifestação regional mais evidente, com uma raiz cabocla que incomoda o tipo padrão, essa padronização por muitas vezes lhe impusera apagar os traços regionais por conta dessa cultura ser interiorana, caipira e ridícula”. Citando outro autor, desta vez  Roque Laraia, os autores do artigo acadêmico destacam o que escreveu Laraia dizendo  “trata-se de  uma   visão etnocêntrica que forçosamente conduz ao estranhamento e a negação da cultura do outro: A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante”. Enquanto para Nilza, Rita Queiroz é a artista do mundo beradeiro, que recria através da arte as paisagens, os lugares, onde a inspiração é a própria natureza, verdadeira mulher rondoniense que transita entre o ribeirinho e o urbano.

                                         Mulher beradeira, obra de Rita Queiroz analisada no artigo

“Ensina-se a gostar de aprender arte com a própria arte, em uma orientação que visa à melhoria das condições de vida humana, em uma perspectiva de promoção de direitos na esfera das culturas (criação e preservação), sem barreiras de classe social, sexo, raça, religião e origem geográfica”, destaca ainda o artigo. Sintetizando que na medida em que propomos uma análise visual da obra de arte realizada pelo educando, garantimos abertura para uma imensidão de interpretações, evocamos aspectos de identidade cultural e pertencimento da relação espaço e paisagem.

 A criação, leitura da obra de arte e sua contextualização designam os componentes do ensino ou aprendizagem, seguido da sistematização. A leitura da imagem se torna real, quando se estabelece relações com a realidade e o contexto presente ou oculto na imagem, na tentativa de compreendê-la e resolvê-la. “É um momento criativo, imaginário de transformação e criação, criar autentica o ser, altera o seu cotidiano. O reconhecimento de ser e estar nos remete ao sentimento de pertencimento ao meio amazônico, de modo a incorporar os elementos estéticos presentes, com a finalidade de ensinar a olhar esteticamente, aprender a utilizar procedimentos de representação, interpretação do meio e valorizar as intervenções ambientais”. Nesse sentido, existe uma possibilidade de abordar questões que refletem a realidade amazônica, da figura do caboclo, do seu contato direto com a floresta e os rios, dos mitos e lendas que permeiam a vida, salienta o artigo.

São analisadas três obras de Rita Queiroz, sempre nesta perspectiva da arte na geografia cultural,  em uma das quais a artista retrata  o drama da mulher beradeira diante de sua vulnerabilidade e, muitas vezes, tratada como “mercadoria, assim como óleo, sal e farinha”; a tela  Igarapé Mururé  destaca as figuras de uma ave, uma menina  duas  casas e uma igreja, que  mostram a integração harmônica do homem e da natureza, o homem integrado, inserido, como um animal que se funde com o ecossistema. E a tela que retrata o surgimento do Círio de Nazaré, com uma Maria cabocla e rodeada de animais, ambientando a presença da mãe de  Jesus na própria Amazônia, como destaca Rita.

                       A tela o Círio de Nazaré também faz parte da análise das obras de Rita Queiroz

“As artes sempre estiveram presentes na humanidade, cada um de nós traz em si diferenças únicas, interligadas ao senso estético e artístico, pois, sabemos que a Arte se organiza de forma abrangente por se relacionar de forma intercultural e multicultural, propondo, através dos educadores, atingir interpretações de leituras de mundos, identificando elementos que fortaleçam uma visão mais aprimorada e reflexiva, valorizando os detalhes de uma composição e relação analítica para potencializar uma consciência critico-social sobre os elementos de observação.                                       A aprendizagem dentro das leituras visuais, efetiva a cooperação de valorizações e identidades como maneira de interpretação e ação criativa. Nesse sentido, é importante propiciar aos alunos a realização de atividades de apreciação e leitura que conduzam a uma nova realidade, ou ressignificação dentro de lutas na valorização de suas identidades espaciais e valorização de suas identidades culturais de vivências. Assim, ao realizar o trabalho de análises das obras da artista pioneira do estado de Rondônia: Rita Queiroz e das identidades de seus povos, esta leitura pretende engrandecer os significados de utilização da leitura nas artes visuais dentro do espaço escolar.                                                      Sabemos ainda que existe um grande número de artistas nos livros didáticos e na internet, mas pesquisar e orientar os alunos no aprendizado, principalmente, no ensino fundamental das artes regionalistas de pessoas que compõem nossa existência local como identidade, é enriquecer nossos critérios de defesa e soberania. Segundo alguns referenciais da base curricular nacional, a integração do ensino de arte potencializa aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos assim como promove a socialização no sentido de proporcionar leituras e julgamentos com melhor base de investigação, tanto no contexto histórico das abordagens femininas, como também no meio ambiente (cujo destaque nos meios de comunicação, informação nos dias de hoje, às vezes o exacerba), demonstrando na obra da artista uma atemporalidade e nas culturas simples que estão se perdendo ou sendo revisitadas, devido ao meio social dinâmico das tecnologias e à falta de privacidade.


                                                       Igarapé Mururé presente no estudo 

Além disso, outra percepção que tivemos ao analisar as obras de Rita  Queiroz foi quanto aos temas tratados em suas obras de arte, eles oscilam entre o sagrado e o profano em uma crise que existiu no barroco com o dualismo, observamos ainda que em nossa contemporaneidade vivenciamos embates dualistas, os quais percebidos, por meio dessas obras, nos fazem refletir. Assim, trabalhar com Rita Queiroz é fecharmos um ciclo de continuidade e de esperança em uma geração que possa valorizar, como ela valoriza, suas visões de forma sensível; nas artes, na literatura, na escultura, visitando concertos, teatros, museus etc, ou seja, tudo que valorize nossa identidade humana, cujo alicerce se embase, especialmente, na cultura artística, local, regional e amazônica”, finalizam os autores.

“É importante propiciar aos alunos a realização de atividades de apreciação e leitura que conduzam a uma nova realidade, ou ressignificação dentro de lutas na valorização de suas identidades espaciais e valorização de suas identidades culturais de vivências”.

O artigo foi elaborado pelos seguintes pesquisadores: Fernando Ferreira Pinheiro - Mestrando em Educação Profissional – UNIR e, Professor de Arte no IFRO  (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia)– Campus Ji-Paraná. Marinho Celestino de Souza Filho -  Mestre em Linguística – UNIR– Campus Guajará-Mirim e, Professor de Língua Portuguesa no IFRO– Campus Ji-Paraná. Reginaldo Diógenes de França -  Mestre em Educação Escolar – UNIR – Campus Porto Velho e Professor de Geografia no IFRO. Carlos Alberto Bosquê Júnior - Mestrando em Educação Profissional – UNIR e, Professor de Arte no IFRO – Campus Ji-Paraná. Clarides Henrich de Barba -  Doutor em Educação e, Professor de Filosofia – UNIR - Campus Porto Velho e Aroni Matos de Oliveira - Mestrando em Educação Profissional – UNIR - Campus Porto Velho e Professor de Educação Física da Rede Pública do Estado de Rondônia.   

O grupo analisou  16 autores, entre os quais: Bueno, Maria Lúcia Adriano, Leitura de Imagem. Chaves, Maria R.; Lira, Talita M. Comunidades ribeirinhas na Amazônia: organizações socioculturais e política. Iavelberg, Rosa. Para gostar de aprender arte - sala de aula e formação de professores. Menezes, Nilza; Queiroz, Rita O gosto do aluá.  Albuquerque, J.; Nascimento A. A. C. Territorialidade cultural em tempos de globalização: uma análise da atuação do estado em centros culturais. Laraia, Roque, Cultura: Um conceito antropológico.

 “Ensina-se a gostar de aprender arte com a própria arte, em uma orientação que visa à melhoria das condições de vida humana, em uma perspectiva de promoção de direitos na esfera das culturas (criação e preservação), sem barreiras de classe social, sexo, raça, religião e origem geográfica”.