sábado, 28 de dezembro de 2019

CONHECENDO PESSOAS E FAZENDO AMIZADES

PROJETO CONHECER A AMAZÔNIA I

Texto 3


Passada a novidade, a viagem segue uma rotina, às vezes somos tomados pela ansiedade, mas pensamos que ainda faltam muitos dias e que o melhor é acalmar o coração. Ainda assim, há passageiros que três dias antes da chegada não param de falar da hora exata em que vão concluir a viagem. Por vezes, pode ser um pouco massante, mas é extremamente agradável pensar que por um curto período estamos no meio do nada, cercados por águas, peixes, botos que nos rodeiam, sem que consigamos fotografá-los, umas casinhas aqui outras acolá. Às vezes uma pequena vila de pescadores. Enfim, vamos nos apropriando da paisagem e mesmo de longe percebemos a beleza da beira rio. Por vezes até imaginamos se seria possível morar assim, em um lugar tão distante, sem transporte e muitas vezes sem energia elétrica. 
E envolvida em tantos pensamentos uma noite mais chegou, desta vez empurrada por um forte vento. Toalhas, lençois e papeis voavam pelo redário.  Vazias as redes subiam e desciam num louco e colorido balé. Se a noite anterior estava escura, esta está muito mais. E um pensamento me sobressalta: talvez seja uma noite trabalhosa para a tripulação e perigosa para nós. Mas enfim, é Deus no comando e vamos confiar. 
Conheci no barco uma passageira de 14 anos com um bebê de oito meses nos braços.  A adolescente viajava sem a supervisão de um adulto. Na verdade, ela estava indo encontrar-se com a mãe em Novo Aripuanã, pois o bebê que estava acostumado com o convívio com a avó, desde que esta viajara há duas ou três semanas, ficara doente. 
A menina tem uma história de vida bem intensa. Aos dez anos chegou em Porto Velho e foi morar em uma casa com dois irmãos menores, arrumou um namorado um pouco  mais velho que passou a morar junto, na mesma casa, assumindo a responsabilidade do sustento da família. Mas ela diz que não estava dando mais certo e não gostava mais dele o suficiente para ficar junto e  antes que o bebê nascesse eles  se separaram,  mas  ela já tem outro companheiro. Ufa, haja fôlego para aguentar a disposição dessa garota.
Conheci um outro casal também interessante, passageiros da cabine especial, moradores de Manaus. Estão casados há pouco mais de um ano, mas confesso que não gostei da forma como ele trata a esposa, sempre enfatizando que se casou com uma moça velha, como se tivesse feito um favor para ela. Nas conversas o primeiro a falar tinha que ser ele e quando a esposa falava algo, ele faltava chamá-la de burra, tapada. Um grosso mesmo. Mas reconhece que sua vida melhorou muito desde o casamento com a manauara. Os dois têm pouco mais de 50 anos. 

No segundo dia de viagem o dia amanheceu esplendido, mesmo com a chuva que insistiu em cair na madrugada. Passamos por um forte vento, que nos obrigou a descer os toldos da embarcação, mas felizmente foi de curta duração e o dia foi de uma marola gostosa, com uma brisa suave durante todo o dia, permitindo um clima bem  agradável. 
Ao meio-dia chegamos a Manicoré. O barco nem ancorou. A cidade estava em festa e por isso o porto estava tomado de embarações e para chegar ao local de desembarque os passageiros foram levados de voadeira. A princípio, nossa chegada em Manaus estava prevista para sábado, uma vez que a embarcação deixou Porto Velho na quarta-feira a tarde, mas desembarque sábado na capital amazonense já estava descartado pela maioria
A refeição é sempre motivo de interação

Quando bate aquele desânimo o melhor lugar é a rede

Novos amigos

Desembarque de voaeira na noite escura

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A CHEGADA EM HUMAITÁ

Projeto Conhecer a Amazônia I

Texto 2

A escuridão da primeira noite de viagem de Porto Velho a Manaus confirmava a mudança de tempo. Ao longo do rio só se via o faixo de luz riscado pelo holofote do Vieira V, cujos operadores se revezavam frequentemente. A noite foi tomada por uma forte chuva  com vento e frio. Não teve quem não buscasse uma roupa  mais adequada à temperatura. 
Lá pelas tantas, um susto. O barco parou seus motores. Para aliviar a tensão    pensei que poderia ser por conta dos bancos de areia bem como a necessidade de manobras mais elaboradas. Mas no dia seguinte, soube-se por alto, que sempre que há uma tempestade um barco do porte do Vieira V precisa parar por medida de segurança, mas esta não foi a única explicação que ouvi, a outra versão é que devido a pouca profundidade do rio, um marinheiro vai a frente em um barco tipo voadeira palmilhando o rio, procurando águas mais profundas para não encalhar em bancos de areia. Explicação plausível e isso aconteceu em Calama, bem perto do início da nossa viagem. Todavia, menos mal. O pior já tinha passado, pelo menos até então. 


Balsa encalhada
O dia amanheceu preguiçoso, bom mesmo pra ficar na rede. Pouco depois das 6 horas um silvo que mais animava que incomodava anunciava o café da manhã. Tudo simples: café com leite e pão com margarina. O problema era o leite frio. O pior estava por vir, o balanço do barco nas águas barrentas do Madeira me presenteou com uma tontura daquelas, que só melhorou depois de uma medicação. 
Almoço servido às dez e meia, comidinha fresca e quentinha deixou todo mundo animado, tanto que por um bom tempo as redes foram deixadas de lado. 
Pouco antes de chegarmos a Humaitá, o primeiro porto, o comandante precisou dar uma desacelerada porque foi informado que uma   balsa estava sendo rebocada logo a frente, por ter encalhado na areia. Por falar em velocidade, fui informada que a velocidade média do barco no qual viajávamos oscila entre  14 e 22 km por hora, dependendo da situação do curso do rio. 
Até que paramos em Humaitá, um porto arrumadinho, com uma plataforma limpa e organizada. Chegar a primeira cidade também significa encontrar sinais de internet nestes percursos de rio. E ai é todo mundo no celular pra avisar em casa que está tudo bem. Pela BR-319, o trecho de Porto Velho a Humaitá é feito entre duas a três horas. O asfalto é conservado e rapidamente se chega à cidade. Vale salientar que de barco chegamos a Humaitá cerca de 20 horas depois de ter deixado a capital de Rondônia. Em torno de 17 ou 18 horas a mais de viagem. E por incrível que pareça teve passageiro para descer na cidade. 

Porto de Humaitá (AM)
Mas a parada é curta e de novo tudo volta a ser como antes, sem acesso a internet, sem redes sociais. A próxima parada será Manicoré, que dizem ser a terra dos bacurais. Será que são notívagos? 




sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A PARTIDA DE PORTO VELHO

Projeto Conhecer a Amazônia I

Texto 1

Moradora de Porto Velho desde 1986, confesso que não conhecia muitas coisas da região, mas a aposentadoria me proporcionou realizar uma linda viagem por um pedacinho da Amazônia. Quero convidar você para percorrer comigo alguns lugares desta incrível região. 


Começamos nossa jornada no barranco do Rio Madeira, debaixo da ponte que atravessa o rio. Nem a palavra porto n
em cais designam o lugar improvisado para descarregamento e carregamento de cargas ou embarque ou desembarque de pessoas. Tábuas estreitas ligam a embarcação à terra e por elas atravessam homens fatigados e soados, levando sobre os ombros ou sobre a cabeça fardos e fardos de mercadorias. Eles não usam sequer um equipamento de proteção, nem ao menos uma cinta para proteger a coluna. Enquanto observo o  movimento fico imaginando as dores crônicas daqueles senhores, muitos ainda bem jovens. 
O dia do embarque foi assim: manhã e tarde de idas e vindas daqueles homens. Ora eram sacas de cebola, ora de fécula, ou caixas e mais caixas que não se podia identificar. No interior do ferrobolt já estavam alguns veículos, cujo destino era Manaus. Finalmente às 16 horas foi encerrado o carregamento, mas também pudera, não tinha lugar pra mais nada no barco e lá vamos nós. 





Se as cargas eram muitas, os passageiros, ao contrário eram poucos. Seres humanos com diferentes expectativas. Um bom exemplo? Um casal de missionários que estava em viagem para Óbidos, no Pará. A missão: cuidar de uma igreja com um pequeno rebanho. Nervosismo e ansiedade enchiam o coração do marido José e da esposa Juliana que estavam partindo para o primeiro trabalho de campo longe da família.
Vagner, um adolescente de 14 anos era outro passageiro. Nascido em Novo Aripuanã, no Amazonas, teve a primeira experiência em morar longe de casa, mas a aventura não completou um ano e teve que voltar. Em Porto Velho morou na zona sul onde morava com tios, estudava e trabalhava como aprendiz de pedreiro. Em casa, pensa em aperfeiçoar o ofício e se tornar um bom profissional. 
A noite chega para nós no meio do rio e com ela muitos pernilongos que invadem o barco, talvez chateados pela presença humana no lugar de repouso, Atenciosa, Juliana oferece repelente para uma passageira que se bate muito, incomodada pela presença dos monstrinhos. 
Um caldo de carne quentinho é servido a todos os passageiros e em seguida um cafezinho, também quente. De modo geral, a tripulação é muito atenciosa. 
Singrando as águas do Madeira prosseguimos caminho. Às19 horas já está muito escuro. Como há bastante lugar para prender as redes, alguns passageiros começam a mudar de lugar. Enquanto isso, lá fora, o farol começa a funcionar. A embarcação é um pouco rústica e o farol é manipulado por marinheiros, que se revezam na parte superior movimentando o farol para melhor direcionar o comandante do barco. Aqui ou acolá se avista alguma propriedade iluminada às margens do rio, mas na maior parte da noite só temos a lua e as estrelas, que também  saem de cena e deixa o negrume total da noite. No salão das redes algumas luzes já foram apagadas. Boa parte dos passageiros já se recolheram nas suas redes, outros conversam e algumas crianças brincam despreocupadas. 
No andar superior, onde funciona uma  lanchonete, a tevê transmite o noticiário para quem deseja manter-se atualizado. Mas são poucos os que se amontoam em frente à tevê. Depois vem a novela e ai o público aumenta. 
A noite trouxe consigo uma brisa, finalmente podemos esquecer a tarde calorenta, mas logo chega uma madrugada trazendo o frio. Hora de puxar uma cobertinha. 



E OS ESTIVADORES?
Voltando ao trabalho dos estivadores, são trabalhadores dignos de admiração. Eles parecem incansáveis, trabalham por uma diária minúscula. Suam de verdade, erguem  uma montanha de peso. Confesso que meus frágeis ombros já doiam só de vê-los em movimento. 
Quem se importa com eles? Homens que acomodam um enorme volume de peso sobre  cabeça, pescoço e coluna. Muitos atravessam o barranco até o barco com a cebeça completamente curvada, outros desaparecem entre as sacarias que os envolvem. Fico imaginando a situação deles ao final do dia. Será que sentem dor? E em alguns anos como será a saúde destes homens? Ai me vem a mente Brasília seus suntuosos gabinetes e outros escritórios Brasil afora onde são negociados milhares de reais em propinas e outros mimos. 







domingo, 3 de março de 2019

... DE TIRAR O FÔLEGO ...


Estes trabalhos são resultados da observação e sensibilidade da artista plástica Rita Queiroz


A dependência química que arrasta jovens e adolescentes para o fundo do poço

Sou daquelas que ama artes plásticas, mas que não define nenhuma classificação ou escola artística. Se a obra é surreal ou contemporânea, expressionista ou impressionista não me pergunte. Mas aprecio uma tela na qual o artista deixa transcendente a sua própria existência para penetrar numa esfera diferente ou não, quando retrata com sinceridade uma cena real e comum, como um soldado no meio de uma batalha, ou uma cena imaginária que nos leve  a reflexão.


Acredito que pra tudo há um momento específico (certo), especialmente quando se trata de descrever um sentimento, um sentido ou qualquer outra coisa que perturbe o seu interior. Por isso entendo que não dá para compor duas telas com a mesma ideia em tempos diferentes, e essa incapacidade de reprodução assegura o valor de um trabalho artístico. Cópias perfeitas podem até ser reproduzidas, mas não terão o mesmo apelo.
Por isso tais trabalhos, surgidos de um momento de profusão na alma do artista, precisam ser preservados. Rita Queiroz, nossa estrela maior das artes plásticas em Rondônia tem pelo menos quatro trabalhos que expressam isso. De acordo com os conceitos teóricos das artes plásticas, tais telas poderiam ser classificados/rotuladas  como representantes do expressionismo, pois retratam a solidão, a miséria e a loucura vivida em algum momento pelos personagens que invadiram  a mente da artista em algum tempo. São pinturas que poucas pessoas exporiam na sala de sua casa, mas seriam encantadoras em uma galeria em qualquer lugar do mundo. Uma dessas telas perdeu-se recentemente. Era de propriedade de um empresário portovelhense que pelas contingências da vida, tipo idade avançada, saúde precária acabou por ter que aposentar-se. E muitos objetos acabaram sendo doados pra conhecidos e amigos, entre eles uma dessas quatro telas. Quando soubemos fomos atrás, na tentativa de um resgate, mas não havia mais tempo. Cupins, um inimigo mortal dos quadros de artistas em toda a existência da arte, alimentaram-se da madeira e da tela. Uma pena.


Mãe da Mata destruída após exposição em Goiânia em 2018
Ano passado, a mesma Rita Queiroz chorou sobre um trabalho que acabou destruído em uma viagem de Goiânia a Anápolis. A tela Mãe da Mata fora levada para a capital goiana para participar de uma exposição coletiva. A falta de recursos para transportar as telas  com segurança, bem como até a garantia de um seguro tem sido uma constante reclamação por parte dos artistas, que expõem seus trabalhos a perda, na expectativa de uma oportunidade de que ele possa ser visto por um maior número de pessoas em cidades e estados diferentes. 
Há anos atrás a própria Rita recuperou uma tela que retratava a Mãe d’Água, um dos personagens do folclore da Amazônia. A jovem que emprestara o rosto para a tela foi presenteada com a mesma, todavia pouco tempo depois veio a óbito, ainda muito jovem. Um dia numa visita à família Rita resgatou a tela que estava do lado de fora da casa exposta ao sol e à chuva, porque a família simplesmente não via nela nenhum valor. A artista contou que nem se sentiu ofendida, pois entendeu  que nem todos têm a sensibilidade para apreciar o esforço de um artista ao produzir um trabalho, que pode ser fácil ou como um  difícil parto.


Nessa onda da não valorização das artes plásticas Rita cita Afonso Ligório, que na sua opinião foi um artista formidável, precursor das artes plásticas em Rondônia, mas do qual há pouca coisa para ser visto ou estudado. Lembrou também do José Fona, outro nome  importante e com pouco acervo.

Visite o site da artista www.ritaqueiroz.com.br




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Humaitá e Apuí instalam Rotary Club



Festiva de posse Rotary Club Humaitá-AM
O Distrito 4720 do Rotary Club inaugurou dois novos clubes neste mês de fevereiro. Os municípios amazonenses de Humaitá e Apuí são os novos membros. A posse  aconteceu no dia 16 em Humaitá e no dia 19, em Apuí. O 4720 reúne rotaryanos do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima é o distrito responsável pela maior extensão territorial do país, com 41% do território nacional   e até o dia 30 de junho está sob a tutela do governador Mâncio Martyres. Francisco Almeida, o Chico, um rotaryano que mora em Cacoal, assume a governança do distrito a partir de 1º de julho.
O Rotary é uma rede global de líderes comunitários, amigos e  vizinhos que se unem para causar mudanças positivas e duradouras em suas cidades e pelo mundo. A instituição existe há mais de 100 anos e por meio de seus associados contribui com a humanidade através de projetos  sustentáveis em diversas áreas como alfabetização, paz, saúde e recursos hídricos.
O clube de Humaitá iniciou suas atividades com 20 associados, mas o presidente Leôncio Flávio Nery Júnior destaca que quer atrair novos membros e alcançar outros municípios como Lábrea e Manicoré. No Apuí, a primeira formação conta  com 30 associados e na liderança do grupo está o presidente Paulo Lopes.

Presenças

Para a festiva de instalação e posse estiveram no interior do Amazonas os seguintes rotaryanos: Mâncio Martyres, governador 2018-19 e Waleska Martyres, ex-presidente do Rotary de Mosqueiro-PA. Francisco Almeida, governador 2019-20 e Nilva Klein Almeida de Cacoal e   Marinho Piacentur  dos Santos, que assumirá a Secretaria da Governança, a partir de julho. Marinho é membro do Rotary de Rolim de Moura.  João Petropolitano e Lucy Queiroz, do clube em Rio Branco-AC. Ele ex-governador 2008-09 e ela 2017-18. Júnior Lima, chairman 2019-20 do Distrito 4720. Almerinda Ribeiro, presidente do Rotary Porto Velho Rio Madeira, que apadrinhou os dois novos clubes e Isabel Cristina Silva, também do Rio Madeira, que será a vice-presidente do clube a partir de 1º de julho. Sabrina Mosconi membro do clube  Marcos Juárez, em Córdoba-Argentina e Ataliba Couto, do clube Monte Mário de Barbacena-MG. Marino João Galina, governador assistente 2019-20 e Berenice Pereira Varão, presidente 2019-20, ambos do Rotary de São Miguel do Guaporé. Patrício Carlos de Menezes, governador assistente 2019-20; Maria Gorete   Silva Menezes, serviços comunidade 2019-20 e Gleisy Antunes, secretária executiva 2019-20, os três de Guajará Mirim. Elaine Ruiz Ferreira, governadora assistente 2018-19 e Isaias  Ferreira Júnior, governador assistente 2019-20 do clube de Penapólis-Rio Branco – AC. Leôncio Flávio Nery Jr, Ericsson Costa Aires, Adriano Totanelli, Maria Inês Castro Corrêa e Manoel Claudio Jr, todos membros do clube de Humaitá, além de Paulo Sancler Lopes e Weslei de Souza, associados do clube em Apuí.
Na solenidade de posse os líderes rotaryanos lembraram e homenagearam Iara Ortiz, uma ex-rotaryana,  falecida em dezembro passado em Porto Velho, que esteve empenhada na formação dos dois novos clubes.

       
Novos associados do Rotary Humaitá




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

REVISTA CRÍTICA DA INFORMAÇÃO



Os cinco primeiros números da Revista Crítica da Informação editada em 1983
Tenho minhas compulsões, confesso e uma delas é guardar publicações que me despertam interesse. Nessa  brincadeira tenho revistas dos anos 80 e alguns recortes de jornais. Com a umidade tão presente na nossa região, muitas publicações se deterioraram e outras  se perderam, mas ainda tenho algumas relíquias.
Em 1983, quando estava na Universidade um grupo de jornalistas de São Paulo lançou uma publicação sob o título de Crítica da Informação. No expediente estava o nome de profissionais fantásticos e modelos para universitários que sonhavam com uma brilhante carreira na área do jornalismo. Lá estavam Luiz Costa Filho, Carlos Eduardo Lins da Silva, Alberto Dines, José Marques de Melo, José  Roberto Penteado, Lúcia Costa, Lúcia Araújo, entre outros.
A proposta da Crítica da Informação era buscar compreender os meios de comunicação de massa, sua estrutura de funcionamento, a função política que estes desempenhavam na sociedade brasileira de então. Ao mesmo tempo prestar um serviço  intelectual ao público e ao profissional de comunicação, a fim de que todos pudessem entender “o fascinante universo de poder, conhecimento e dinheiro”,  citava o primeiro editorial, cujo o autor enfatizava que a informação sempre foi foco de poder. E que a mesma tornava-se cada vez mais vital para o desenvolvimento das relações sociais, descrevendo que consumi-la acriticamente seria condenar-se a si, e à sociedade, a sujeição definitiva e o objetivo da revista seria justamente contribuir para que isso não viesse a acontecer. Creio que o autor do editorial tenha sido o Luiz Costa.
Não sei por quanto tempo aquela Crítica da Informação resistiu. Eu consegui acompanhar as primeiras cinco edições. Penso que na expectativa de baratear o custo, a revista não tinha páginas coloridas, apenas as capas. No miolo o papel usado era comum, o que fez com que nestes 36 anos as páginas ficassem amareladas, mas ainda assim estão intactas. As cinco edições têm 66 páginas cada uma, vários artigos e pouca publicidade.
Acabei de fazer uma releitura do artigo de José Marques de Melo cujo título é Leitura de jornal: privilégio da elite brasileira.  J.M.Melo em 1983 já era doutor em Comunicação,   professor da Usp, autor de alguns livros, inclusive adotados pelas faculdades de Comunicação de praticamente todo o país. Nele o autor tenta responder algumas perguntas do tipo por que o brasileiro não tinha o hábito de ler jornal? Definindo que a leitura diária de jornal representava então um indicador civilizatório bastante expressivo. Segundo José Marques de Melo, que faleceu em junho do ano passado, qualquer país que enveredasse pelo desenvolvimento econômico, repartindo melhor o produto social entre os seus habitantes, registraria sempre a progressão das tiragens dos jornais.
A queda no quantitativo de leitores com relação ao crescimento populacional era marcante no primeiro número de Crítica da Informação. De 1950 a 1980 registrou-se um declínio constante, com pouca variação de crescimento na tiragem dos jornais, mais notadamente na década de 1970. Além disso, ele deixava evidente que o crescimento do número de alfabetizados não alterava o comportamento do público leitor, talvez porque o jornal se tornava um produto economicamente inacessível à grande maioria da população.
O texto destaca ainda  que havia uma certa acomodação por parte dos proprietários dos grandes jornais que estavam satisfeitos com suas receitas publicitárias, não indo  atrás de novos leitores. Sem contar que o maior volume de papel utilizado na confecção dos impressos dependia da  importação.
Atualmente, de acordo com o IVC  - Instituto Verificador de Circulação, a circulação impressa dos principais jornais diários do Brasil segue em declínio. Em Porto Velho, em 2017, o Alto Madeira, um matutino centenário deixou de circular. Antes deles perdemos muitos outros, como O Estadão do Norte, O Guaporé, O Imparcial, A Tribuna e tantos outros.

Exemplares históricos do Alto Madeira - última edição outubro de 2017
Numa análise mais atualizada, provavelmente os parâmetros seriam outros, mas o que vale aqui neste momento é destacar a preocupação registrada há 36 anos atrás. O certo é que os jornais estão  sendo extintos e não há nada mais vibrante do que a oportunidade de manipular um jornal impresso, sentir o cheiro da tinta, dobrar as páginas para uma leitura mais confortável. Antigamente quando viajava para visitar a família no Rio de Janeiro sempre comprava o jornal, nem que fosse aos finais de semana, quando as edições eram  recheadas de novidades. Com o passar do tempo o hábito foi desaparecendo e hoje quase nem me lembro. Mas se aparece um jornal leio o máximo possível.
Durante o curto período em que estive na  África do Sul, no ano passado, observei que a leitura do jornal impresso ainda é um hábito por lá. Há várias publicações que circulam nos bairros da Cidade do Cabo, a maioria de distribuição gratuita, com  vasta publicidade do comércio local, em especial supermercados e farmácias. Mas também há os informativos diários que tem o seu público alvo bem definido. E em geral, os jornais ficam expostos para venda nos supermercados.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O Brasil que a gente não quer


08 de fevereiro de 2019

Amanhecemos nesta sexta com mais uma tragédia estampada nas manchetes dos noticiários on line. Desta vez, pelo menos, dez adolescentes, talvez entre 14 e 17 anos, perderam a vida. Eles foram vítimas de um incêndio que aconteceu no Centro de Treinamento do Flamengo, mais conhecido como Ninho do Urubu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Outros três foram retirados do local, pelo Corpo de Bombeiros, ainda com vida e estão hospitalizados. 
Quem são estes meninos que buscam uma carreira em uma das profissões mais ilusórias do nosso país? Quem nunca conheceu um garoto que fez de tudo para chegar pelo menos perto de um desses Centros de Treinamento dos grandes clubes? Qual o tratamento dispensado a estes sonhadores? Será que eles recebem o melhor do clube? Alimentos, acomodação, atenção psicológica e etc?
Nunca estive em um Centro de Treinamento de Base para formação de atletas, mas imagino que não seja o local mais nobre dos clubes, tipo a sala de visita. Mas já tive contato com mães de meninos que sonharam um dia ser um grande jogador de futebol e o que elas contam não é lá grande coisa. Algumas informações na mídia davam conta de que as imagens,  publicadas nas primeiras horas, no local funcionava um depósito. Será? Depósito serve pra tudo, o que presta e o que é inservível. Mas quem vai responder sobre isso será a Perícia do Corpo de Bombeiros. Voltemos às vítimas.
Pois é, como ia dizendo, a clientela desses Centros de Treinamento, em geral dos que optam por morar no local, são meninos pobres, ou  não tão pobres assim que deixam suas casas a centenas de milhares de quilômetro em busca de um sonho. Todos têm algo em comum: ser um grande jogador, quiçá o melhor; vestir a camisa dos grandes clubes do Brasil ou do exterior e fazer parte do escrete da Seleção Brasileira. Sonhos completamente compreensíveis e aceitáveis, mas muitas vezes eles precisam passar por situações de grande tristeza e até humilhação e a maioria acaba voltando pra casa, decepcionado com o futebol. Alguns descobrem novos objetivos, outros param no tempo e no espaço.
Mas para aqueles dez meninos não houve sequer tempo para finalizar o sonho. Foram surpreendidos pela morte cruel. Talvez tenham despertado atordoados com a fumaça e sido por ela sufocado, talvez não. Quem vai saber? Suas famílias agora choram não apenas   a perda de um ente querido, mas lamentam a possibilidade de um dia mudar de vida, de ter sonhos realizados. Ainda não sabemos de onde eles eram, mas certamente de muitos lugares do nosso Brasil. Pena que tudo tenha terminado assim.  


 
O que restou após o incendio no alojamento dos meninos no Ninho do Urubu, em Varzea Grande, no Rio. (Foto Internet)

Só, para registrar, vale a pena lembrar que a Zona Oeste foi sacudida na última segunda-feira por um forte temporal, tendo sido uma das regiões do Rio mais atingidas. E de acordo com informações divulgadas pela midia até a madrugada do incêndio o local ainda estava sem água e sem energia.