domingo, 19 de agosto de 2018

A INCREDULIDADE NAAMÃ E MEU ENGLISH

A vista de um dos cruzamentos entre bairros do subúrbio de Cape Town
 Estamos chegando na reta final do Intercâmbio. Mais três semanas de aula e finish
Uma etapa importante da vida concluída. O que fazer daqui pra frente? Qual o novo objetivo?
Uma coisa de cada vez, porque muitos pensamentos ao mesmo tempo me deixam atrapalhada. 
Por alguns dias passou pela minha cabeça o desejo de esticar minha permanência por aqui por uma nove ou dez semanas a mais.  Fiz até umas pesquisas nas companhias aéreas, rascunhei um e-mail para a escola solicitando um orçamento, mas desisti. 
Primeiro porque ia perder uma grana que não posso me dar ao luxo de jogar pela janela. Afinal,  não posso esquecer que sou aposentada e vivo em um país em que as condições econômicas e financeiras são precárias, além de termos sempre uma ameça sobre mudanças no sistema previdenciário. 
Segundo, porque organizei a minha vida para três meses de ausência em casa. Se bem que tudo por lá me parece estar sob controle e em melhores condições com a nova direção. 
E por último, se não me engano, e o mais importante talvez, o meu desempenho na nova língua. De fato, nem tudo acontece como se imagina. Pra quem conhece a estória de um homem chamado Naamã, um personagem extraordinário da Bíblia, lá no Velho Testamento, acho que tive um pensamento parecido com o dele, embora tenha consciência de que não seria assim. Vou explicar melhor:
Naamã era um homem muito importante no exercito do rei da Síria. Era o general cinco estrelas que comandava todo o exercito e talvez ocupasse até o cargo de ministro militar. Pois bem, Naamã tinha um problema sério: ele era leproso e a lepra naquele tempo era a pior de todas as doenças, porque obrigava ao doente viver uma vida segregada. Talvez pela importância de seu cargo e pelos recursos que devia possuir, Naamã não precisou viver totalmente longe do convívio social. Mas a lepra o tornava diferente. 
Um dia, uma adolescente  talvez, levada entre os despojos e cativos de Samaria, após uma investida vitoriosa do exercito de Naamã, acabou indo servir na casa deste homem.   Lá, ela contemplou a situação e confidenciou a esposa de Naamã, que se este pudesse ir diante do profeta Eliseu em Samaria, ele certamente sararia da lepra. 
A menina era uma escrava, mas sua voz foi ouvida e valorizada e a esposa de Naamã relatou a ele tal possibilidade. Naamã por sua vez levou o assunto ao rei da Síria que escreveu cartas ao rei de Samaria, pedindo que houvesse uma intermediação para  que Naamã chegasse ao profeta. 
Mas pra finalizar, Naamã foi a Samaria e não foi recebido pelo profeta que lhe mandou uma mensagem: mergulhar no Rio Jordão sete vezes. O general ficou indignado, afinal, viera de tão longe, tivera tanto trabalho e não foi recebido pelo profeta, afinal quem era este, diante da importância de uma autoridade militar estrangeira e que trazia cartas seladas pelo próprio rei?
Naamã esperava ser recebido, ter suas feridas tocadas e ser curado. 
Quanto a mim, acho que eu esperava chegar aqui e com uma semana ter os ouvidos destampados para entender todos os sons e fonemas desta língua extraordinária. 
Mas não foi assim, porque as coisas não são como parecem ser. As pessoas são dotadas de habilidades, aos 58 ainda não sei bem quais são as minhas, mas certamente  aprender uma outra língua num abrir e fechar de olhos ou com algumas semanas de convivência, não é uma delas. 
O graduado militar foi convencido pelos seus soldados a mergulhar no Jordão, e assim o fez, mesmo a contra gosto e ficou curado. Eu vou voltar pra casa e continuar a estudar. Não sei quanto tempo me resta, mas espero ter forças para continuar, porque os desafios desta vida muitas vezes nos levam ao desânimo e cansaço, mas quando temos nossas forças renovadas podemos contemplar um horizonte com muitas possibilidades. 
 
Waterfront - Onde todos os turistas se encontram em Cape Town





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