domingo, 2 de setembro de 2018

UM ALMOÇO NA TOWNSHIP


Os cinco passos do almoço na Township Gugulethu em Cape Town 


Restaurante Mzoli's na Township Guguleth em Cape Town
 Há dias minha amiga Luciana tem me falado desse almoço na Township Gugulethu e hoje era a minha, digamos assim, última oportunidade de conhecer o lugar. Se alguém quiser uma definição prática para township,  é o lugar onde moram as pessoas pobres. A maioria, eu creio, são trabalhadores, mas tem também a rapaziada que não faz nada, ou melhor, faz sim, tira os bens dos que trabalham na marra. Por isso todo mundo diz que é muito perigoso ir até lá. São muitas as recomendações, uso do celular, nem pensar. Abrir a carteira em público, só se for louco.
Enfim saímos para a Township. O motorista que nos levou já é um velho conhecido da Luciana. No carro as recomendações. Nossa amiga Helena de Angola ficou preocupada, mas superou logo, depois foi o Kalid, um saudita gente boa, que como nós está a estudar aqui, como diria Helena. Kalid não aprovou muito, mas agora já era tarde. Nosso destino já estava selado. Eu estava tranquila, mas tinha pensado que o motorista ia ficar lá conosco, mas qual a surpresa, ele nos deixou para retornar assim que solicitássemos a volta.  
Pois bem, o lugar não é longe de Rondebosch, nosso ponto de partida e ainda passamos pra pegar os demais em Claremont. Certamente, por ser domingo, o trânsito estava uma maravilha. Conforme que vamos deixando o subúrbio deste lado de Cape Town, vamos também observando a mudança no cenário. As de agora parecem menores e à medida que avançamos vamos constatando que há lixo espalhado em algumas ruas.   Por onde passamos agora a presença dos negros é mais forte e mais constante. E por ai vai.

Chegamos em Gugulethu. O restaurante fica logo na entrada da comunidade. Felizmente chegamos cedo, quando o movimento ainda não é muito intenso e descobrimos que há dois ambientes. 
A escolha da carne é fundamental
No primeiro que é um açougue próprio do restaurante, o cliente escolhe a carne. Tem bovina, suína e frango, além da linguiça de porco. A atendente pesa cada item separadamente pergunta se quer molho e manda para o caixa, onde fazemos o pagamento e recebemos 
O cliente define o tamanho do prato
o prato (ouvi um questionamento  indiscreto: “vamos comer cru?”). Mas deixa isso pra lá.
Com o prato nas mãos,  seguimos em um corredor e chegamos  ao churrasqueiro que recebe o prato e manda que retornemos  em quinze minutos. Nesse meio tempo podemos fazer o que  quisermos, mas como ainda estamos  assustado pelas recomendações, nos refugiamos no interior do restaurante. Do lado de fora há vendedores de camisetas, bonés, chaveiros, colares e outros souvenirs.

Mas na primeira passada nem dá pra ver nada disso. Só  depois.
Churrasqueiros no controle
Os quinze minutos de espera da carne assada funcionam também como um relaxamento, a medida que vamos nos familiarizando com o ambiente. O salão é simples. A maioria das cadeiras de plástico e bem usadas, o piso é cimentado e rústico. As mesas são meio que improvisadas e cobertas por toalhas plásticas. No meio de tudo, um som, que para mim que não estou acostumada, ensurdecedor, comandado por um Djei.  Não faltou o carimbo na mão pra marcar quem entra e quem sai.
Conforme a hora vai passando o público vai chegando. Muitos turistas, mas também muitos locais. Na África do Sul é proibido ingerir bebida alcoólica na rua, mas em bares e restaurantes não tem problema e pra variar, parece que as pessoas gostam mais de beber do que de comer. Mas tudo sem nenhuma alteração, pelo menos durante o tempo que permaneci por lá.

Assada no ponto
Mas voltando à comida, passado  os 15 minutos, ou um pouquinho mais o cliente retorna ao outro ambiente e recebe seu prato. Não há uso de talheres. Os turistas se contentam com a carne, os nativos, em geral, acrescentam outros pratos típicos, como o pap, por exemplo. Uma polenta feita de farinha de milho branco. A pessoa come e literalmente lambe os dedos.
O mais legal é o preço, que não é dos mais caros e ainda tem a vantagem de fazer o pedido mais de uma vez, caso alguém queira repetir.
Não sobra quase nada.  Só os ossos e excesso de gordura. 
Não vi desperdício e se sobra, o cliente leva pra casa. O restaurante chama-se Mzolii’s Meat. Uma delícia.