domingo, 3 de março de 2019

... DE TIRAR O FÔLEGO ...


Estes trabalhos são resultados da observação e sensibilidade da artista plástica Rita Queiroz


A dependência química que arrasta jovens e adolescentes para o fundo do poço

Sou daquelas que ama artes plásticas, mas que não define nenhuma classificação ou escola artística. Se a obra é surreal ou contemporânea, expressionista ou impressionista não me pergunte. Mas aprecio uma tela na qual o artista deixa transcendente a sua própria existência para penetrar numa esfera diferente ou não, quando retrata com sinceridade uma cena real e comum, como um soldado no meio de uma batalha, ou uma cena imaginária que nos leve  a reflexão.


Acredito que pra tudo há um momento específico (certo), especialmente quando se trata de descrever um sentimento, um sentido ou qualquer outra coisa que perturbe o seu interior. Por isso entendo que não dá para compor duas telas com a mesma ideia em tempos diferentes, e essa incapacidade de reprodução assegura o valor de um trabalho artístico. Cópias perfeitas podem até ser reproduzidas, mas não terão o mesmo apelo.
Por isso tais trabalhos, surgidos de um momento de profusão na alma do artista, precisam ser preservados. Rita Queiroz, nossa estrela maior das artes plásticas em Rondônia tem pelo menos quatro trabalhos que expressam isso. De acordo com os conceitos teóricos das artes plásticas, tais telas poderiam ser classificados/rotuladas  como representantes do expressionismo, pois retratam a solidão, a miséria e a loucura vivida em algum momento pelos personagens que invadiram  a mente da artista em algum tempo. São pinturas que poucas pessoas exporiam na sala de sua casa, mas seriam encantadoras em uma galeria em qualquer lugar do mundo. Uma dessas telas perdeu-se recentemente. Era de propriedade de um empresário portovelhense que pelas contingências da vida, tipo idade avançada, saúde precária acabou por ter que aposentar-se. E muitos objetos acabaram sendo doados pra conhecidos e amigos, entre eles uma dessas quatro telas. Quando soubemos fomos atrás, na tentativa de um resgate, mas não havia mais tempo. Cupins, um inimigo mortal dos quadros de artistas em toda a existência da arte, alimentaram-se da madeira e da tela. Uma pena.


Mãe da Mata destruída após exposição em Goiânia em 2018
Ano passado, a mesma Rita Queiroz chorou sobre um trabalho que acabou destruído em uma viagem de Goiânia a Anápolis. A tela Mãe da Mata fora levada para a capital goiana para participar de uma exposição coletiva. A falta de recursos para transportar as telas  com segurança, bem como até a garantia de um seguro tem sido uma constante reclamação por parte dos artistas, que expõem seus trabalhos a perda, na expectativa de uma oportunidade de que ele possa ser visto por um maior número de pessoas em cidades e estados diferentes. 
Há anos atrás a própria Rita recuperou uma tela que retratava a Mãe d’Água, um dos personagens do folclore da Amazônia. A jovem que emprestara o rosto para a tela foi presenteada com a mesma, todavia pouco tempo depois veio a óbito, ainda muito jovem. Um dia numa visita à família Rita resgatou a tela que estava do lado de fora da casa exposta ao sol e à chuva, porque a família simplesmente não via nela nenhum valor. A artista contou que nem se sentiu ofendida, pois entendeu  que nem todos têm a sensibilidade para apreciar o esforço de um artista ao produzir um trabalho, que pode ser fácil ou como um  difícil parto.


Nessa onda da não valorização das artes plásticas Rita cita Afonso Ligório, que na sua opinião foi um artista formidável, precursor das artes plásticas em Rondônia, mas do qual há pouca coisa para ser visto ou estudado. Lembrou também do José Fona, outro nome  importante e com pouco acervo.

Visite o site da artista www.ritaqueiroz.com.br