quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

REVISTA CRÍTICA DA INFORMAÇÃO



Os cinco primeiros números da Revista Crítica da Informação editada em 1983
Tenho minhas compulsões, confesso e uma delas é guardar publicações que me despertam interesse. Nessa  brincadeira tenho revistas dos anos 80 e alguns recortes de jornais. Com a umidade tão presente na nossa região, muitas publicações se deterioraram e outras  se perderam, mas ainda tenho algumas relíquias.
Em 1983, quando estava na Universidade um grupo de jornalistas de São Paulo lançou uma publicação sob o título de Crítica da Informação. No expediente estava o nome de profissionais fantásticos e modelos para universitários que sonhavam com uma brilhante carreira na área do jornalismo. Lá estavam Luiz Costa Filho, Carlos Eduardo Lins da Silva, Alberto Dines, José Marques de Melo, José  Roberto Penteado, Lúcia Costa, Lúcia Araújo, entre outros.
A proposta da Crítica da Informação era buscar compreender os meios de comunicação de massa, sua estrutura de funcionamento, a função política que estes desempenhavam na sociedade brasileira de então. Ao mesmo tempo prestar um serviço  intelectual ao público e ao profissional de comunicação, a fim de que todos pudessem entender “o fascinante universo de poder, conhecimento e dinheiro”,  citava o primeiro editorial, cujo o autor enfatizava que a informação sempre foi foco de poder. E que a mesma tornava-se cada vez mais vital para o desenvolvimento das relações sociais, descrevendo que consumi-la acriticamente seria condenar-se a si, e à sociedade, a sujeição definitiva e o objetivo da revista seria justamente contribuir para que isso não viesse a acontecer. Creio que o autor do editorial tenha sido o Luiz Costa.
Não sei por quanto tempo aquela Crítica da Informação resistiu. Eu consegui acompanhar as primeiras cinco edições. Penso que na expectativa de baratear o custo, a revista não tinha páginas coloridas, apenas as capas. No miolo o papel usado era comum, o que fez com que nestes 36 anos as páginas ficassem amareladas, mas ainda assim estão intactas. As cinco edições têm 66 páginas cada uma, vários artigos e pouca publicidade.
Acabei de fazer uma releitura do artigo de José Marques de Melo cujo título é Leitura de jornal: privilégio da elite brasileira.  J.M.Melo em 1983 já era doutor em Comunicação,   professor da Usp, autor de alguns livros, inclusive adotados pelas faculdades de Comunicação de praticamente todo o país. Nele o autor tenta responder algumas perguntas do tipo por que o brasileiro não tinha o hábito de ler jornal? Definindo que a leitura diária de jornal representava então um indicador civilizatório bastante expressivo. Segundo José Marques de Melo, que faleceu em junho do ano passado, qualquer país que enveredasse pelo desenvolvimento econômico, repartindo melhor o produto social entre os seus habitantes, registraria sempre a progressão das tiragens dos jornais.
A queda no quantitativo de leitores com relação ao crescimento populacional era marcante no primeiro número de Crítica da Informação. De 1950 a 1980 registrou-se um declínio constante, com pouca variação de crescimento na tiragem dos jornais, mais notadamente na década de 1970. Além disso, ele deixava evidente que o crescimento do número de alfabetizados não alterava o comportamento do público leitor, talvez porque o jornal se tornava um produto economicamente inacessível à grande maioria da população.
O texto destaca ainda  que havia uma certa acomodação por parte dos proprietários dos grandes jornais que estavam satisfeitos com suas receitas publicitárias, não indo  atrás de novos leitores. Sem contar que o maior volume de papel utilizado na confecção dos impressos dependia da  importação.
Atualmente, de acordo com o IVC  - Instituto Verificador de Circulação, a circulação impressa dos principais jornais diários do Brasil segue em declínio. Em Porto Velho, em 2017, o Alto Madeira, um matutino centenário deixou de circular. Antes deles perdemos muitos outros, como O Estadão do Norte, O Guaporé, O Imparcial, A Tribuna e tantos outros.

Exemplares históricos do Alto Madeira - última edição outubro de 2017
Numa análise mais atualizada, provavelmente os parâmetros seriam outros, mas o que vale aqui neste momento é destacar a preocupação registrada há 36 anos atrás. O certo é que os jornais estão  sendo extintos e não há nada mais vibrante do que a oportunidade de manipular um jornal impresso, sentir o cheiro da tinta, dobrar as páginas para uma leitura mais confortável. Antigamente quando viajava para visitar a família no Rio de Janeiro sempre comprava o jornal, nem que fosse aos finais de semana, quando as edições eram  recheadas de novidades. Com o passar do tempo o hábito foi desaparecendo e hoje quase nem me lembro. Mas se aparece um jornal leio o máximo possível.
Durante o curto período em que estive na  África do Sul, no ano passado, observei que a leitura do jornal impresso ainda é um hábito por lá. Há várias publicações que circulam nos bairros da Cidade do Cabo, a maioria de distribuição gratuita, com  vasta publicidade do comércio local, em especial supermercados e farmácias. Mas também há os informativos diários que tem o seu público alvo bem definido. E em geral, os jornais ficam expostos para venda nos supermercados.


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