A arte, segundo Rita Queiroz, muda o ser, experiência que ela tem de si própria. Por isso é uma antiga defensora de que, especialmente as pessoas que vivem em qualquer grau de vulnerabilidade, como crianças, apenados, menores infratores, pacientes psiquiátricos entre outros, necessitam de alguma forma de envolvimento com a arte. Em um artigo acadêmico especialistas em educação da Universidade Federal de Rondônia e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia defendem a importância do ensino da arte em sala de aula, em especial no ensino fundamental, e indicam, que o melhor investimento deve ser feito com os artistas regionais, com os quais os alunos se identificariam com maior facilidade.
A artista Rita Queiroz em ação
A Revista Gestão Universitária, uma publicação especializada em artigos universitários, publicou em sua edição de novembro de 2019 um artigo acadêmico, produzido por meio de pesquisa bibliográfica, que procura apresentar a Arte na Geografia Cultural, mostrando que é possível obter aprendizagens significativas no espaço escolar, a partir de aspectos artísticos culturais, utilizando como exemplo a leitura das obras da artista plástica e escritora Rita Queiroz.
De acordo com as pesquisas desenvolvidas pelos educadores, a escola é um local propício para ensinar e
aprender arte. Confirmando um dos pensamentos de Rita Queiroz que há muito
defende a necessidade de interação entre
a escola e a arte, tanto que tem insistido junto à rede escolar e aos
professores que levem seus alunos às exposições e que lhes oportunize uma vivência maior com a arte.
O principal objetivo do artigo foi
traçar um paralelo entre a obra de Rita e as possiblidades de leituras em arte nos
espaços escolares, valorizando as identidades regionais em contextos
amazônicos. Salientando que “nesse aspecto, podemos tecer alguns
questionamentos, a saber: é possível obter aprendizagens significativas no
espaço escolar a partir de aspectos artísticos culturais, levando em consideração
a leitura das obras de arte da artista plástica e escritora Rita Queiroz?”
”Rita Queiroz é a representação
da mistura da mulher nativa, originária dos seringais rondonienses, com a
mulher de hoje, que circula pelas nossas ruas, num misto de floresta com
modernidade. Essa mulher convive com a vida moderna e com a arte, levando o
mundo ribeirinho além das fronteiras regionais, sem perder a referência
cultural. A sua arte é voltada para as imagens regionais, a poeticidade
transforma-a em uma cabocla urbana”, é um ponto de vista citado no estudo,
baseado no que escreveu Nilza Menezes no
livro que conta a vivência da artista plástica na região ribeirinha onde
nasceu, às margens do Rio Madeira. Para os autores, Nilza aponta para o início
de um novo ciclo na vida de Rita, agora o urbano. “Quando ocorre a mistura de
modelos culturais, aflorando nela o perfil artístico. No caso a arte torna a
manifestação regional mais evidente, com uma raiz cabocla que incomoda o tipo
padrão, essa padronização por muitas vezes lhe impusera apagar os traços
regionais por conta dessa cultura ser
interiorana, caipira e ridícula”. Citando outro autor, desta vez Roque Laraia, os autores do artigo acadêmico
destacam o que escreveu Laraia dizendo
“trata-se de uma visão etnocêntrica que forçosamente conduz
ao estranhamento e a negação da cultura do outro: A nossa herança cultural,
desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir
depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos
padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento
desviante”. Enquanto para Nilza, Rita Queiroz é a artista do mundo beradeiro,
que recria através da arte as paisagens, os lugares, onde a inspiração é a
própria natureza, verdadeira mulher rondoniense que transita entre o ribeirinho
e o urbano.
Mulher beradeira, obra de Rita Queiroz analisada no artigo
“Ensina-se a gostar de aprender arte com a própria arte, em uma orientação que visa à melhoria das condições de vida humana, em uma perspectiva de promoção de direitos na esfera das culturas (criação e preservação), sem barreiras de classe social, sexo, raça, religião e origem geográfica”, destaca ainda o artigo. Sintetizando que na medida em que propomos uma análise visual da obra de arte realizada pelo educando, garantimos abertura para uma imensidão de interpretações, evocamos aspectos de identidade cultural e pertencimento da relação espaço e paisagem.
São analisadas três obras de Rita
Queiroz, sempre nesta perspectiva da arte na geografia cultural, em uma das quais a artista retrata o drama da mulher beradeira diante de sua
vulnerabilidade e, muitas vezes, tratada como “mercadoria, assim como óleo, sal
e farinha”; a tela Igarapé Mururé destaca as figuras de uma ave, uma menina duas
casas e uma igreja, que mostram a
integração harmônica do homem e da natureza, o homem integrado, inserido, como
um animal que se funde com o ecossistema. E a tela que retrata o surgimento do
Círio de Nazaré, com uma Maria cabocla e rodeada de animais, ambientando a
presença da mãe de Jesus na própria
Amazônia, como destaca Rita.
A tela o Círio de Nazaré também faz parte da análise das obras de Rita Queiroz
“As artes sempre estiveram presentes na humanidade, cada um de nós traz em si diferenças únicas, interligadas ao senso estético e artístico, pois, sabemos que a Arte se organiza de forma abrangente por se relacionar de forma intercultural e multicultural, propondo, através dos educadores, atingir interpretações de leituras de mundos, identificando elementos que fortaleçam uma visão mais aprimorada e reflexiva, valorizando os detalhes de uma composição e relação analítica para potencializar uma consciência critico-social sobre os elementos de observação. A aprendizagem dentro das leituras visuais, efetiva a cooperação de valorizações e identidades como maneira de interpretação e ação criativa. Nesse sentido, é importante propiciar aos alunos a realização de atividades de apreciação e leitura que conduzam a uma nova realidade, ou ressignificação dentro de lutas na valorização de suas identidades espaciais e valorização de suas identidades culturais de vivências. Assim, ao realizar o trabalho de análises das obras da artista pioneira do estado de Rondônia: Rita Queiroz e das identidades de seus povos, esta leitura pretende engrandecer os significados de utilização da leitura nas artes visuais dentro do espaço escolar. Sabemos ainda que existe um grande número de artistas nos livros didáticos e na internet, mas pesquisar e orientar os alunos no aprendizado, principalmente, no ensino fundamental das artes regionalistas de pessoas que compõem nossa existência local como identidade, é enriquecer nossos critérios de defesa e soberania. Segundo alguns referenciais da base curricular nacional, a integração do ensino de arte potencializa aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos assim como promove a socialização no sentido de proporcionar leituras e julgamentos com melhor base de investigação, tanto no contexto histórico das abordagens femininas, como também no meio ambiente (cujo destaque nos meios de comunicação, informação nos dias de hoje, às vezes o exacerba), demonstrando na obra da artista uma atemporalidade e nas culturas simples que estão se perdendo ou sendo revisitadas, devido ao meio social dinâmico das tecnologias e à falta de privacidade.
Igarapé Mururé presente no estudo
Além disso, outra percepção que
tivemos ao analisar as obras de Rita Queiroz foi quanto aos temas tratados em suas
obras de arte, eles oscilam entre o sagrado e o profano em uma crise que
existiu no barroco com o dualismo, observamos ainda que em nossa
contemporaneidade vivenciamos embates dualistas, os quais percebidos, por meio
dessas obras, nos fazem refletir. Assim, trabalhar com Rita Queiroz é fecharmos
um ciclo de continuidade e de esperança em uma geração que possa valorizar, como
ela valoriza, suas visões de forma sensível; nas artes, na literatura, na
escultura, visitando concertos, teatros, museus etc, ou seja, tudo que valorize
nossa identidade humana, cujo alicerce se embase, especialmente, na cultura
artística, local, regional e amazônica”, finalizam os autores.
“É importante propiciar aos alunos a realização de atividades de
apreciação e leitura que conduzam a uma nova realidade, ou ressignificação
dentro de lutas na valorização de suas identidades espaciais e valorização de
suas identidades culturais de vivências”.
O grupo analisou 16 autores, entre os quais: Bueno, Maria Lúcia
Adriano, Leitura de Imagem. Chaves, Maria R.; Lira, Talita M. Comunidades
ribeirinhas na Amazônia: organizações socioculturais e política. Iavelberg, Rosa.
Para gostar de aprender arte - sala de aula e formação de professores. Menezes,
Nilza; Queiroz, Rita O gosto do aluá. Albuquerque, J.; Nascimento A. A. C.
Territorialidade cultural em tempos de globalização: uma análise da atuação do
estado em centros culturais. Laraia, Roque, Cultura: Um conceito antropológico.
“Ensina-se a gostar de aprender arte com a própria arte, em uma orientação que visa à melhoria das condições de vida humana, em uma perspectiva de promoção de direitos na esfera das culturas (criação e preservação), sem barreiras de classe social, sexo, raça, religião e origem geográfica”.
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