Os cinco primeiros números da Revista Crítica da Informação editada em 1983 |
Tenho minhas compulsões, confesso
e uma delas é guardar publicações que me despertam interesse. Nessa brincadeira tenho revistas dos anos 80 e
alguns recortes de jornais. Com a umidade tão presente na nossa região, muitas
publicações se deterioraram e outras se
perderam, mas ainda tenho algumas relíquias.
Em 1983, quando estava na
Universidade um grupo de jornalistas de São Paulo lançou uma publicação sob o
título de Crítica da Informação. No expediente estava o nome de profissionais fantásticos
e modelos para universitários que sonhavam com uma brilhante carreira na área
do jornalismo. Lá estavam Luiz Costa Filho, Carlos Eduardo Lins da Silva,
Alberto Dines, José Marques de Melo, José
Roberto Penteado, Lúcia Costa, Lúcia Araújo, entre outros.
A proposta da Crítica da
Informação era buscar compreender os meios de comunicação de massa, sua
estrutura de funcionamento, a função política que estes desempenhavam na
sociedade brasileira de então. Ao mesmo tempo prestar um serviço intelectual ao público e ao profissional de
comunicação, a fim de que todos pudessem entender “o fascinante universo de
poder, conhecimento e dinheiro”, citava
o primeiro editorial, cujo o autor enfatizava que a informação sempre foi foco
de poder. E que a mesma tornava-se cada vez mais vital para o desenvolvimento
das relações sociais, descrevendo que consumi-la acriticamente seria
condenar-se a si, e à sociedade, a sujeição definitiva e o objetivo da revista
seria justamente contribuir para que isso não viesse a acontecer. Creio que o
autor do editorial tenha sido o Luiz Costa.
Não sei por quanto tempo aquela
Crítica da Informação resistiu. Eu consegui acompanhar as primeiras cinco
edições. Penso que na expectativa de baratear o custo, a revista não tinha páginas
coloridas, apenas as capas. No miolo o papel usado era comum, o que fez com que
nestes 36 anos as páginas ficassem amareladas, mas ainda assim estão intactas.
As cinco edições têm 66 páginas cada uma, vários artigos e pouca publicidade.
Acabei de fazer uma releitura do
artigo de José Marques de Melo cujo título é Leitura de jornal: privilégio
da elite brasileira. J.M.Melo em
1983 já era doutor em Comunicação, professor da Usp, autor de alguns livros,
inclusive adotados pelas faculdades de Comunicação de praticamente todo o país.
Nele o autor tenta responder algumas perguntas do tipo por que o brasileiro não
tinha o hábito de ler jornal? Definindo que a leitura diária de jornal
representava então um indicador civilizatório bastante expressivo. Segundo José
Marques de Melo, que faleceu em junho do ano passado, qualquer país que
enveredasse pelo desenvolvimento econômico, repartindo melhor o produto social
entre os seus habitantes, registraria sempre a progressão das tiragens dos jornais.
A queda no quantitativo de
leitores com relação ao crescimento populacional era marcante no primeiro número
de Crítica da Informação. De 1950 a 1980 registrou-se um declínio constante,
com pouca variação de crescimento na tiragem dos jornais, mais notadamente na
década de 1970. Além disso, ele deixava evidente que o crescimento do número de
alfabetizados não alterava o comportamento do público leitor, talvez porque o
jornal se tornava um produto economicamente inacessível à grande maioria da
população.
O texto destaca ainda que havia uma certa acomodação por parte dos
proprietários dos grandes jornais que estavam satisfeitos com suas receitas
publicitárias, não indo atrás de novos
leitores. Sem contar que o maior volume de papel utilizado na confecção dos impressos
dependia da importação.
Atualmente, de acordo com o IVC - Instituto Verificador de Circulação, a
circulação impressa dos principais jornais diários do Brasil segue em declínio.
Em Porto Velho, em 2017, o Alto Madeira, um matutino centenário deixou de
circular. Antes deles perdemos muitos outros, como O Estadão do Norte, O
Guaporé, O Imparcial, A Tribuna e tantos outros.
Exemplares históricos do Alto Madeira - última edição outubro de 2017 |
Numa análise mais atualizada,
provavelmente os parâmetros seriam outros, mas o que vale aqui neste momento é
destacar a preocupação registrada há 36 anos atrás. O certo é que os jornais estão sendo extintos e não há nada mais vibrante do
que a oportunidade de manipular um jornal impresso, sentir o cheiro da tinta,
dobrar as páginas para uma leitura mais confortável. Antigamente quando viajava
para visitar a família no Rio de Janeiro sempre comprava o jornal, nem que fosse
aos finais de semana, quando as edições eram
recheadas de novidades. Com o passar do tempo o hábito foi desaparecendo
e hoje quase nem me lembro. Mas se aparece um jornal leio o máximo possível.
Durante o curto período em que
estive na África do Sul, no ano passado,
observei que a leitura do jornal impresso ainda é um hábito por lá. Há várias
publicações que circulam nos bairros da Cidade do Cabo, a maioria de
distribuição gratuita, com vasta
publicidade do comércio local, em especial supermercados e farmácias. Mas
também há os informativos diários que tem o seu público alvo bem definido. E em
geral, os jornais ficam expostos para venda nos supermercados.
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