Formatura Raísa em Porto Velho 2011 Ademilson, Alice, Raísa e Antônia Layr
O dia nem havia amanhecido e eis
que o telefone tocou e uma voz embargada explodiu como uma bomba: “meu pai
faleceu”, a voz era do André Luiz, o quarto sobrinho. Antes disso, por pouco
não dispensei a ligação, mas considerei que ele talvez não soubesse que não
estou no Brasil e atendi sonolentamente.
A notícia me pegou de surpresa. Meu irmão estava sim doente, mas não era
daquelas doenças para a morte. Engoli em seco e esperei o resto da informação
que foi curta e grossa, parecia que ele já tinha decorado o texto, avisava do
falecimento, horário e sepultamento.
Atordoada, não conseguia nem
definir a hora. Informei para a Raísa sobre o passamento, aos meus irmãos de
igreja e a uma antiga amiga em comum. Lamentei profundamente perder uma pessoa
tão querida. Sem desmerecer os demais, ele tinha um quê especial, porque quando eu era muito pequena e minha precisava se ausentar para trabalhar,
ele era o responsável por mim e pelo que nossa mãe relatava, cuidava muito bem,
melhor que dele mesmo. Era o meu Leleco,
forma carinhosa pela qual o chamava nem
sei por que. Coisas de crianças.
Pelos relatos de nossa mãe, o Lika,
era assim que o chamávamos em família, foi uma criança frágil. Passou por várias
enfermidades, mas venceu. Aos 22 anos se casou com Aldecira, uma moça do
interior, no dia 18 de novembro de 1973. Nunca esqueço a data, porque eu
desejei muito ir à festa, mas não pude, quanto ao ano, já não tenho tanta
certeza. Eles se casaram na “roça”, era assim que se referiam a localidade São João do Paraíso, no norte do Estado do Rio.
O casamento teve muitas estórias, como a caminhada do noivo e seus irmãos por
várias horas para chegar ao local do casamento e até o aparecimento de um disco voador.
Lika era um cara legal. Gostava de
ir na casa da nossa mãe e fazer faxina, literalmente. Era uma briga só, porque
ele queria jogar objetos que considerava desnecessários fora e ela ficava uma fera, brigava com ele,
mas reclamava se ele não aparecesse por lá com freqüência. Mas sempre foi um
filho obediente. Aos e noivo levou umas boas cabadas de vassoura nas costas,
dadas pela nossa mãe. Naquela ocasião, ela batia e ele dizia, “pode bater a
senhora é a minha mãe, tem todo direito”. Nossa mãe costumava dizer, que ela
podia não saber por que estava batendo, mas o filho sabia porque estava
apanhando. Se resultado desse corretivo ou não, sinceramente
não sei, mas Ademilson foi um bom marido e um bom pai e sem dúvida um excelente
irmão, tio, primo e avô. Do casamento nasceram André, Andreilson e Ademauri e
ainda encontraram lugar para o Alexis, todos Luiz, como o pai.
Pude recebê-lo duas vezes em Porto
Velho, a primeira em 2011, para a formatura da Raísa. Veio ele e nossa irmã
Antonia Layr, que todos chamam de Suzanna, além de alguns amigos. Foi um
momento excepcional. A alegria dele pela formatura da sobrinha era a de quem
forma uma filha. Estava muito feliz. Desde que a Raísa era pequena ele não se
cansava de dizer, que a hora que ela quisesse poderia morar na casa dele, fosse
para estudar no Rio, fosse por qualquer necessidade. Nunca foi necessário, mas
as portas estiveram sempre abertas.
A segunda vez ele fez a gentileza
de sair do Rio para passar um mês em nossa casa, enquanto Raísa e eu fazíamos
uma viagem de férias, isso já em 2014. Na volta, o levamos para conhecer Guajará e Guayará Mirim, ficou
super feliz pela oportunidade de atravessar a fronteira.
Ano passado fizemos planos para o
início de 2018. Iríamos a muitos lugares no Rio de Janeiro, visitaríamos a
parentela e conheceríamos novos lugares, mas uma enfermidade podou nossos
planos, mas eu ainda tinha esperanças,
que hoje chegaram ao fim.
Todos se preparam para a vida.
Fazemos Chá de Revelação, para anunciar o sexo do bebê, que muitas vezes ainda
está longe de nascer, fazemos Chá de Bebê, quando os queridos chegam com seus
presentes para agraciar o novo ser, mas ninguém celebra o que está para morrer,
como se esse não fosse o fim mais certo ao longo da vida. Nos últimos anos,
digamos assim, perdemos muitas pessoas queridas da família, melhor dizendo,
nosso avô, Antônio Freitas Tavares faleceu há muitos anos, acho que 45 anos
atrás, mas lembro dos últimos anos de vida dele com certa nitidez. Como estava
aposentado, ia a nossa casa com uma
certa frequência, sempre que podia levava
um agrado, tipo um reforço para o almoço, ficava uma horinhas por lá e depois
voltava pra casa, muitas vezes caminhava uma longa de Campos Elíseos ao
Laureano, onde morava. No dia do seu sepultamento, minha sobrinha Andréa Layr
aprendeu a andar. Foi no mês de agosto de 1973. Em 1988 fomos surpreendidos com
a morte violenta do Lucas, o primogênito da terceira geração dos Tavares
Thomaz. Alguns anos mais tarde, já no início dos anos 90, perdemos o Anderson,
outro sobrinho. Nossa mãe partiu em
2011, deixando uma grande lacuna nas nossas vidas. Depois Anna Paula e no ano
passado o Alexis. Neste meio tempo também tivemos outras baixas, como a cunhada
Célia Chagas Thomaz e uma ex-cunhada, mãe do Anderson, a Sônia Cunha. Seus
filhos choram suas mortes até hoje. A família do Ademilson nem sequer se
recuperou da perda do Alexis e agora fica sem o pai. Toda perda causa uma dor
imensurável. Certamente é mais intensa para uns do que para outros, mas essa
separação é certa e inquestionável.
A Palavra de Deus nos ensina que do
pó viemos e para o pó retornaremos, por isso precisamos fazer boas escolhas em
nossa vida, como reatar a nossa intimidade com o Criador e procurar viver sob o seu
domínio para que após este lastimoso dia, nossos amados que ficam possam de
fato ficar em paz, sabendo da certeza da salvação daqueles que partiram.
Perdoem-me se confundi datas ou se
esqueci de mencionar alguém. Saudades de todos. Hoje gostaria muito de abraçar
meus irmãos e sobrinhos e dizer que precisamos amar e respeitar uns aos outros
cada dia mais, porque depois o que fica
é a saudade e lembranças. Não da tempo
pra nada. Semana passada (15/6) Aldecira me mandou uma mensagem e disse que
estava planejando reunir os irmãos no próximo final de semana para um almoço.
Nem deu tempo .....
Alice Thomaz
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