Estes trabalhos são resultados da observação e sensibilidade da artista plástica Rita Queiroz
A dependência química que arrasta jovens e adolescentes para o fundo do poço |
Sou daquelas que ama artes
plásticas, mas que não define nenhuma classificação ou escola artística. Se a
obra é surreal ou contemporânea, expressionista ou impressionista não me
pergunte. Mas aprecio uma tela na qual o artista deixa transcendente a sua
própria existência para penetrar numa esfera diferente ou não, quando retrata
com sinceridade uma cena real e comum, como um soldado no meio de uma batalha,
ou uma cena imaginária que nos leve a
reflexão.
Acredito que pra tudo há um
momento específico (certo), especialmente quando se trata de descrever um
sentimento, um sentido ou qualquer outra coisa que perturbe o seu interior. Por
isso entendo que não dá para compor duas telas com a mesma ideia em tempos
diferentes, e essa incapacidade de reprodução assegura o valor de um trabalho
artístico. Cópias perfeitas podem até ser reproduzidas, mas não terão o mesmo
apelo.
Por isso tais trabalhos, surgidos
de um momento de profusão na alma do artista, precisam ser preservados. Rita
Queiroz, nossa estrela maior das artes plásticas em Rondônia tem pelo menos
quatro trabalhos que expressam isso. De acordo com os conceitos teóricos das
artes plásticas, tais telas poderiam ser classificados/rotuladas como representantes do expressionismo, pois
retratam a solidão, a miséria e a loucura vivida em algum momento pelos
personagens que invadiram a mente da
artista em algum tempo. São pinturas que poucas pessoas exporiam na sala de sua
casa, mas seriam encantadoras em uma galeria em qualquer lugar do mundo. Uma
dessas telas perdeu-se recentemente. Era de propriedade de um empresário
portovelhense que pelas contingências da vida, tipo idade avançada, saúde
precária acabou por ter que aposentar-se. E muitos objetos acabaram sendo
doados pra conhecidos e amigos, entre eles uma dessas quatro telas. Quando
soubemos fomos atrás, na tentativa de um resgate, mas não havia mais tempo.
Cupins, um inimigo mortal dos quadros de artistas em toda a existência da arte,
alimentaram-se da madeira e da tela. Uma pena.
Mãe da Mata destruída após exposição em Goiânia em 2018 |
Ano passado, a mesma Rita Queiroz
chorou sobre um trabalho que acabou destruído em uma viagem de Goiânia a
Anápolis. A tela Mãe da Mata fora levada para a capital goiana para participar
de uma exposição coletiva. A falta de recursos para transportar as telas com segurança, bem como até a garantia de um
seguro tem sido uma constante reclamação por parte dos artistas, que expõem
seus trabalhos a perda, na expectativa de uma oportunidade de que ele possa ser
visto por um maior número de pessoas em cidades e estados diferentes.
Há anos atrás a própria Rita
recuperou uma tela que retratava a Mãe d’Água, um dos personagens do folclore
da Amazônia. A jovem que emprestara o rosto para a tela foi presenteada com a
mesma, todavia pouco tempo depois veio a óbito, ainda muito jovem. Um dia numa
visita à família Rita resgatou a tela que estava do lado de fora da casa
exposta ao sol e à chuva, porque a família simplesmente não via nela nenhum
valor. A artista contou que nem se sentiu ofendida, pois entendeu que nem todos têm a sensibilidade para
apreciar o esforço de um artista ao produzir um trabalho, que pode ser fácil ou
como um difícil parto.
Nessa onda da não valorização das
artes plásticas Rita cita Afonso Ligório, que na sua opinião foi um artista
formidável, precursor das artes plásticas em Rondônia, mas do qual há pouca
coisa para ser visto ou estudado. Lembrou também do José Fona, outro nome importante e com pouco acervo.
Visite o site da artista www.ritaqueiroz.com.br