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Esta é a principal foto do Facebook de Roberto Braga, parece que publicada em 2013 |
Esta semana li nas redes sociais a notícia da morte de Roberto Brega, um sonhador. Seu corpo foi encontrado em um quarto de hotel do Centro de Porto Velho e sua morte foi dada como natural. O maior desejo de Roberto Braga: gravar um CD. E o segundo maior, talvez fosse ser agraciado
pelo programa do apresentador de TV Luciano Huck, no quadro Lata Velha, onde teria
seu fusca azul restaurado. Possivelmente, pela primeira vez Roberto conseguiu ser notícia de verdade e atrair a atenção do público. Os posts sobre sua morte foram compartilhados por muita gente e os comentários foram centenas. Talvez nem soubesse, mas tinha um fã clube considerável.
Um tempo atrás, acho que há quase
três anos, fiz uma entrevista com ele lá
na avenida Amazonas, no Agenor de Carvalho, próximo ao local em que ele então
morava. Por algumas vezes tentei produzir um texto, mas sempre esbarrava em
algumas dificuldades, a primeira delas, foi que realmente não consegui extrair dele clareza
nas informações. Às vezes me parecia um homem enigmático, mas de outras vezes, a impressão que eu tinha é que lhe
faltava lucidez para concluir frases e
pensamentos. Mas agora, diante da notícia de sua morte, retomei às escassas
anotações e tento extrair delas alguma coisa que faça sentido. Por algumas
vezes, tentei retomar a entrevista, mas sempre que o via em algum cruzamento,
ou estava apressada ou pensava que não era um bom momento.
Mas enfim, a vida passa para
todos e passou para o Roberto Brega, que na verdade se chamava José e ao ser questionado pelo sobrenome, ele
alegou que todo mundo conhecia ele pelo nome artístico, e não havia necessidade
de mais informações. Adotou o nome de Roberto, porque muitos fãs diziam que a
sua voz era muito parecida com a do cantor popular Roberto Carlos e o brega,
certamente era por causa da linha musical que adotara. Ainda assim disse que tinha filhos, cinco no total e sete netos e que
conversava, por telefone, com alguns
deles de vez em quando. Sem admitir a
idade exata deixou que eu sugerisse uma, falei 60 anos e ele disse que era por
ai.
Brega contou então que a partir
de um momento de sua vida, não definido claramente, passou a perseguir o sonho
de ser cantor. Lembrou que quando tinha uns 10 ou 11 anos aprendeu a tocar
violão. Com essa ideia, há alguns anos, deixou o Recife excursionando até o
Amazonas. Passou por cidades como Nova Olinda do Norte e Santo Antônio do
Borba. Na bagagem tinha um único CD gravado, e por onde passava pleiteava
algumas cópias para vender ao público. Contou que viajou de avião e de ônibus
com ar condicionado e que fazia shows ao vivo, mas aos poucos foi perdendo o
que ganhava e por fim ficou sem a caixa de som e o teclado. Foi quando ouviu
falar que talvez tivesse sorte em Rondônia, aonde chegou com 20 reais no bolso.
Passou por Guajará Mirim, onde pensava
comprar um novo teclado, para depois se
estabelecer em Porto Velho. Saudoso, lembrava-se de ter tocado em um bar na Avenida
Sete de Setembro, e outro no bairro da Balsa. A música principal de seu
repertório, segundo ele mesmo, era “Mulher Vaidosa”, que o público sempre pedia
bis. Passou dois anos morando no fusca
1973, azul, o mesmo que nos últimos anos tentava, a todo custo, que fosse
reformado no quadro Lata Velha, do Luciano Huck.
Quanto ao fusca, Brega relatou
que enquanto não conseguia a reforma global, alguns amigos tinham mandado para uma oficina em
Porto Velho e que ele esperava em breve ter o seu carro de volta. Mas na
verdade ele não tinha muita certeza sobre isso, pois se mostrava confuso quanto
ao destino do antigo veículo.
A vida de Roberto Brega em nada
se parecia com a do ídolo de quem ele adotou o nome. O único CD que conseguiu
gravar foi uma matriz e sonhava com a
sua reprodução e distribuição em muitos pontos de vendas. Passados os anos e
sem condição nenhuma de se apresentar, Brega passou a depender da caridade popular.
O cartaz, anunciando seu show estava surrado, rasgado e sujo. Suas vestes gastas também despertavam compaixão, mas ele
não abandonava o estilo Roberto Brega de se vestir. Os cabelos emaranhados e a
longa barba estavam incorporados ao seu estilo. Pessoalmente, não me lembro desde quando ele
estava em Porto Velho e acho que nem ele se lembrava, pois sempre que falava
sobre este tema ele abordava outro assunto. Talvez haja em nossos jornais
matérias informativas desse tempo, mas agora não tenho como verificar.
Bom seria se houvesse apenas este
Roberto Brega, mas nossas cidades estão cheias de homens e mulheres que se
perdem diariamente em sonhos, que para a maioria são inatingíveis. Alguns ficam
na ilusão, outros apelam para as drogas, outros enfermam com a depressão. Cada
um busca a sua válvula de escape. Brega chamou a atenção de muitos, mas poucos
olharam para ele de verdade, e eu me incluo nestes muitos. É provável que logo tenhamos outros Bregas
nos semáforos de nossa cidade, aliás, acho que já temos. A maioria ainda é
jovem, mas o tempo passa rápido e o fim de muitos talvez seja o de uma morte
solitária em um canto qualquer. Acho que vale pensar em algo que possamos fazer.
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Estilo Roberto Brega de ser, inconfundível. |